terça-feira, 30 de março de 2010

Sr. BARBOSA - BNU Cabo Verde

Escudo de Cabo Verde Português

Trabalhei num departamento do Banco Nacional Ultramarino, na sede, com o sr. João Gomes Barbosa Júnior, que tinha vindo do BNU - Cabo Verde.
Criámos uma relação muito boa e já depois de eu ter saído daquele departamento, conheci a sua mulher e a sua filha.
Em 1974, o BNU tinha a agência da Praia, que era a mais importante e antiga, que tinha sido aberta em 1865, a agência de S. Vicente aberta em 1894, e a Delegação do Sal, aberta em 1948, além de correspondências em todas as sedes dos concelhos.



O Sr. Barbosa, quando se deu a revolução do 25 de Abril, era o gerente da Praia e, segundo parece, tinha preponderância sobre os outros gerentes de Cabo Verde, sendo um "gerente geral" de toda a província. Não sei se isto estará correcto em termos de organigrama do Banco para Cabo Verde, àquela data.
Seja como for, o Sr. Barbosa veio para Portugal, com a família logo a seguir ao 25 de Abril. Ele foi um dos colegas das delegações ultramarinas que nunca obteve colocação consentânea com a sua capacidade e experiência, quando regressou a Portugal.
Nasceu em S. Vicente, em 30.7. 1922. Tirou o curso de Altos Estudos Ultramarinos no que é actualmente o Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas.
Pertencia a uma família antiga de Cabo Verde, descendente de João Gomes Barbosa, nascido em 8.3.1802, que foi comandante do forte de D. Pedro na ilha do Fogo e que faleceu em 12.03.1864.
O Sr. Barbosa punha no fim do seu nome o "Junior" precisamente para não se confundir com este antepassado e com outros que tinham tido também o mesmo nome.
Era um homem bom. Faleceu em 3.04.2002. Como diziam os latinos "sit eius terra levis". "Requiescat in pace". = Que a terra lhe seja leve. Descanse em paz.

No dia 1 de Julho de 1976, já o sr. Barbosa não estava em Cabo Verde, com a transferência do activo e do passivo dos Departamentos do Banco Nacional Ultramarino e do Banco de Fomento Nacional em Cabo Verde, o Banco de Cabo Verde deu início às suas actividades sucedendo em linha directa a todas as funções que tinha em Cabo Verde o Banco Nacional Ultramarino.


Sr. Barbosa, com os Pais e as irmãs

Encontrei esta foto do Sr. Barbosa, rapaz novo. Não está muito boa, mas dá para perceber que é ele. Sei que deixou dois filhos, o Pedro, doutor em História e a Teresa, professora, e dois netos, o João Pedro nascido em 1979 e a Maria João nascida em 1983.

domingo, 28 de março de 2010

ASSEMBLEIA da ASSOCIAÇÃO



Então, lá estivemos na Assembleia da Associação dos Antigos Empregados do Banco Nacional Ultramarino.
A afluência foi boa. A sala estava cheia. Presidiu o Dr. Martins Borrego, que conduziu os trabalhos como só ele sabe fazer. Esteve ladeado pelo Sr. Agostinho dos Santos, o Sr. Dr. Isaias Gomes dos Santos e pelo Sr. Arrais.



O Presidente da Direcção, Sr. Ribeiro Gonçalves, fez uma breve introdução a que se seguiu a exposição do Conselho Fiscal sobre as contas e sobre o orçamento e programa para o presente ano.



Foram aprovadas as contas e o programa e orçamento para o presente ano e foi ainda aprovado um voto de louvor aos órgãos sociais da Associação.

O Sr. carvalho fez a proposta de louvor que foi aprovada por unanimidade e aclamação.


O Dr. Martins Borrega falou sobre este blog e falámos sobre a disponibilidade (que é total e que foi para isso que ele nasceu) deste blog para publicar artigos, histórias, fotos, vídeos que os colegas queiram fazer. Basta enviar para o e-mail que está identificado logo abaixo do título do blog.

Seguiu-se à assembleia um lanche e convívio, onde todos fomos devidamente fotografados. Só que eu fiz vídeos e então vou colocar aqui os vídeos. Tem a vantagem de vermos como são as pessoas a falar e a movimentar-se.
Então vejam.

Começamos com a apreciação final que o presidente fez desta assembleia



Continuamos com dois rivais da 2ª circular...



A Belmira estava nos Câmbios quando eu entrei para o BNU



O Dr. Armindo fala da sua experiência internacional



O Sr. Carvalho diz que gostou



O Sr. Luis Fernandes marcou presença



O Sr. Agostinho dos Santos comeu o seu bolinho e cavaqueou



A D. Carolina lá esteve



O Sr. Dr. Gomes dos Santos explica o seu parecer à colega dos Açores



E continuamos



E falamos



E mais conversa

quinta-feira, 25 de março de 2010

Sr. DENGUCHO - ÚLTIMO GRANDE DIRECTOR DE MACAU



Abílio do Nascimento Martins Dengucho, nasceu em 17 de Maio de 1939 em Torre de Moncorvo, onde tem residência e é especialmente estimado como um dos filhos ilustres da terra.
Entrou no BNU em Lourenço Marques em Janeiro de 1957.
Foi para Macau em Abril de 1977.
O governador português do território pretendia criar um banco central em Macau, encerrando o Departamento local do BNU.
A ida do Sr. Dengucho para Macau destinou-se a defender as posições e interesses do BNU nesse projecto.

Com o Governador Português de Macau, Carlos Ascensão

O projecto acabou por não se concretizar, mas foi reconhecida a necessidade de alterar o sistema de emissão monetária, pondo em prática a autonomia financeira que o Estatuto de Macau tinha definido no ano anterior.
Estas alterações criariam no BNU a necessidade de se reorganizar a adaptar-se ao novo perfil das funções que veio a assumir em conjunto com o Banco da China.

Na Assembleia Nacional Popular em Pequim

O Sr. Dengucho, que já tinha tido um papel essencial e tinha demonstrado capacidade extraordinária na defesa dos interesses do BNU, na transferência dos diversos departamentos ultramarinos para os novos países nascidos da revolução de Abril, tinha a sua permanência em Macau prevista para 9 meses, acabou por ficar 18 anos.
Foi ele que dirigiu o BNU de Macau desde 1977 até praticamente 1995, data da sua aposentação.


Inauguração de agência do BNU em Zuhai, China

A este grande director se deve a actual permanência e papel preponderante que ainda conserva o BNU em Macau. À sua acção e dinamismo se deve igualmente a expansão do BNU naquela zona chinesa, abrindo novas agências tanto no território macaense como já dentro da China.

Inauguração de agência do BNU em Macau

Recordo-me que, durante a sua direcção do BNU Macau, acompanhou a Portugal uma delegação chinesa e pelo menos um grande jornal português que noticiou o acontecimento, dizia que a parte portuguesa era representada pelo sr. Deng Hucho. Fazia sentido. Quem não o conhecesse pensava que era mais um chinês.
Olá Sr. Dengucho, lá por trás dos montes, como é que tem passado?

Nota de Macau assinada pelo Sr. Dengucho, como Director Geral do BNU

terça-feira, 23 de março de 2010

BNU - Moçambique

Sede do BNU em Lourenço Marques em 1974

O Banco Nacional Ultramarino atingiu a sua máxima força em Moçambique, permanecendo como banco emissor e primeiro banco comercial daquele vasto território desde 1868 até 1975, data em que a parte moçambicana foi transformada em Banco de Moçambique.
Actualmente sede do Banco de Moçambique

Quando foram feitos os acordos de transferência dos activos do BNU para o Banco de Moçambique ficou assente que viriam para Portugal, onde seriam integrados nos quadros do BNU, 980 trabalhadores do BNU Moçambique, em tranches de 200 por ano.
Afinal só vieram 580 porque 400 desses trabalhadores optaram por ficar em Moçambique.
Em 1978 ficou completa a integração dos trabalhadores de Moçambique no BNU europeu.
Eram colegas com preparação bancária e que tiveram de se sujeitar a lugares muitas vezes pouco consentâneos com a sua competência.
Mas o que sobretudo se fez imediatamente notar foi o afluxo de raparigas e mulheres bonitas ao BNU.
Em Portugal (europeu) o BNU (como em geral, os outros bancos)era um banco antigo e tradicionalista, em que as mulheres ainda não tinham papel preponderante. Mas isso mudou com a vinda do pessoal de Moçambique.
Rapidamente o BNU passou a ser o Banco com mais bonitas mulheres da baixa pombalina.

A Irene veio de Moçambique. Olá Irene!



A Anita Vera Cruz veio de Moçambique. Está no filme, de há vinte anos, com a Drª Lemos Viana, o Alexandre Dias e o Moura de Figueiredo.
Telefonou-me há dias e estava toda orgulhosa das suas três filhas. A do meio está casada com o Carvalho da Silva, presidente da CGTP.

domingo, 21 de março de 2010

BNU - O CONQUISTADOR PORTUGUÊS

BNU Luanda

No seu livro “D. João VI no Brasil”, Oliveira Lima diz que o Império de D. João compreendia o território europeu de Portugal, os arquipélagos dos Açores e da Madeira, as vastidões do Brasil e os domínios da Ásia e na África.
Na Ásia, a parte oriental da ilha de Timor, Macau e Goa, Damão e Diu.
BNU S. Tomé


Na África, o arquipélago de Cabo Verde e o de S. Tomé e Príncipe.
No resto de África as possessões portuguesas não passavam de enclaves alguns deles diminutos como a fortaleza de S. João Batista de Ajudá.
Na Guiné, a presença portuguesa reduzia-se a Bissau (não chegava a cem casas, a maioria palhotas), Cacheu e alguns entrepostos.

Em Angola, o controle português restringia-se, no litoral, às áreas entre a foz do Rio Lifune e a boca do Cuanza e entre o Rio Quiteve e a cidade de Benguela e, ao Norte do Rio Zaire, o entreposto de Cabinda. Para o interior, o limite não estava determinado: avançava e recuava, conforme as circunstâncias, mas nunca iam além de 300 quilómetros.
BNU Lourenço Marques até 1958

No Índico, a ilha de Moçambique, Sofala, Quelimane, Inhambane, Lourenço Marques e mais algumas feitorias da costa, tinham de haver-se com sultões e xeques aguerridos.

Após a independência do Brasil, 1822, Lisboa passou a olhar para Angola, Moçambique e Guiné com outros olhos. E já no final do Século XIX procurou seriamente assenhorear-se daqueles amplos territórios.

BNU Timor

Neste propósito de tomada de posse efectiva dos territórios ultramarinos, o Banco Nacional Ultramarino teve o papel mais importante.
A história dos manuais escolares não nos fala do principal que está por trás de qualquer conquista ou grande empreendimento: o dinheiro. Com o dinheiro adquirem-se não só as armas, mas também se pagam os prés dos soldados, o rancho, as roupas, as casernas, sem o que ninguém faz nada.
Não esqueçamos que o BNU abriu dependências em Angola em 1865 e em Moçambique em 1868.



Consultemos a história da presença portuguesa nas possessões ultramarinas e vemos que a sua verdadeira "ocupação" e "pacificação" é feita precisamente depois do estabelecimento das sucursais do BNU nesses territórios.

BNU Beira

O BNU era o único banco nesses territórios.
Na história do BNU no ultramar, consta o financiamento de todas as acções não só de "pacificação" e "conquista", mas também a construção de estradas, pontes, caminhos de ferro, exploração agrícola, o comércio, o povoamento nesses territórios.
A chamada campanha de pacificação de Angola decorreu entre 1889 e 1891 e em Moçambique a guerra que acabou com prisão do imperador Gungunhana terminou em 1895. Em tudo está o BNU.

BNU Macau

Na Conferência de Berlim de 1884/1885 ficou decidido o novo direito colonial, segundo o qual a ocupação de um território substituía o direito histórico de descoberta. Portugal procurou formas de defender as suas colónias, mas isso tornava necessário avultados meios humanos, financeiros e tecnológicos para exploração daquele vasto e rico território.



Podemos dizer, sem margem para erro, que se não fossem os homens do BNU, que, qual novos conquistadores, se deslocaram para as sucursais no ultramar para apoiarem os portugueses, estes territórios não teriam qualquer hipótese de sobreviver como portugueses.
Para as explorações de Serpa Pinto e Hermenegildo Capelo em 1877 , O BNU dera instruções aos seus gerentes de Luanda e Moçambique e nas agências de Benguela, Moçâmedes, Lourenço Marques e Quelimane para colocarem à disposição dos exploradores todos os meios necessários para a realização da viagem. No relatório do BNU referente a 1877 Francisco Chamiço mostrava o seu empenhamento: "Brito Capelo, Serpa Pinto e Ivens foram os primeiros sacerdotes desta cruzada de civilização e patriotismo".

sexta-feira, 19 de março de 2010

ASSEMBLEIA GERAL


Está marcada a Assembleia Geral Ordinária da

para o dia 27 de Março de 2010, pelas 14 horas com a seguinte ordem de trabalhos:

Atenção que

EU VOU!

quinta-feira, 18 de março de 2010

OLÁ, PESSOAL!


Quem não se lembra do João António? Quem não se lembra da Mina?

O João António sempre pronto, sempre a andar, sempre amigo.
A Mina, sempre com uma palavra de boa disposição.
E não é isto que conta na vida?
Olha, agora o João António também me fez emocionar com o mail que me enviou.
Ó pá, manda lá lembranças, para nós todos vermos.
Quanto aos prédios do BNU, estou convencido que podemos fazer algo para manter a memória.

Mail do João António:

Bom Dia Rito

Tive conhecimento do teu blog por intermédio da Mina

Lembras-te de mim? Eu sou o João António

O meu comentário é que tiveste uma ideia fantástica, dar a conhecer não só aos BNUS como a outros que não imaginam nem conhecem a história do BNU
Digo-te com toda a sinceridade, quem trabalhou naquela casa como eu 35 anos, este comentário fer-me chorar, e hoje eu que vou muitas vezes à baixa, não tenho coragem de passar pela Rua Augusta e ver aquele belo edificio transformado em Museu da Moda
Foi uma grande facada que deram em todos os trabalhadores do BNU

Vou fazer uma busca em casa, e ver se tenho coisas respeitante ao banco e também ao nosso Grupo Desportivo que como sabes estive lá muitos anos

Um grande abraço deste teu amigo
João António

quarta-feira, 17 de março de 2010

SINAIS DO MAIOR BANCO PORTUGUÊS DE SEMPRE

Talvez muitos de nós não tenhamos conhecimento suficientemente aprofundado do que foi o BNU e do que representou para a divulgação da cultura portuguesa no mundo. Mas podemos afirmar sem perigo de exagero que o BNU foi a empresa que mais fez em toda a história de Portugal por essa divulgação.

Vale pena ler o livro de Vasco Pulido Valente "Um Herói Português - Henrique Paiva Couceiro" para vermos o que este português fez pela fixação dos limites dos territórios das colónias de Moçambique e sobretudo Angola, onde em poucos meses e praticamente sozinho, demarcou como território português, cerca de um quarto do território angolano.
Paiva Couceiro foi governador de Angola e enquanto tal, definiu o que foi reconhecido como a base do desenvolvimento equilibrado de Angola e que ainda agora está a ser seguido pelos responsáveis angolanos. Pois é o próprio Paiva Couceiro que reconhece e elogia o papel importante que o BNU tinha para o equilibrio financeiro e desenvolvimento económico de Angola.

Não foi só em Angola que o BNU foi importante. Em todas as colónias portuguesas teve um papel essencial no desenvolvimento e na fixação de portugueses, que só contavam com o BNU para financiar toda a actividade económica.
O BNU financiou, durante largas décadas, a construção de todas as estradas, pontes, escolas, casas de todas as colónias portuguesas, sendo que nalgumas delas se manteve praticamente até aos anos 70 do século passado como única entidade bancária.
Em Macau, a sua acção foi tão importante que não se pôde acabar com o seu nome e estatuto, mesmo depois de ter desaparecido enquanto banco com entidade própria.
Em Timor, depois da independência e após um período longo de destruição de tudo o que era português, teve de ressuscitar o BNU, única entidade bancária com ligação à terra e ao português.
Em Goa, depois da expulsão dos portugeses, foi o BNU que teve o importante papel que o Sr. Jorge Anastácio soube defender até ao fim.
Em Moçambique, em Cabo Verde, em S. Tomé deu origem aos bancos centrais daqueles novos países, onde tinha deixado as bases do sistema financeiro daqueles países, como banco emissor e maior banco comercial.
Em todos estes países e lugares lá estavam os quadros de muitos portugeses que aplicaram e expalharam a nossa cultura.
O BNU desapareceu.
Um excelente trabalho está a ser feito por técnicos da Caixa Geral de Depósitos na conservação de muita documentação e valores do BNU e que farão a mais importante base de um museu importantissimo.
Mas eu penso que poderia conservar-se também algo mais vivo.
Estou a referir-me por exemplo ao edifício da 5 de Outubro, que deveria ser chamado e identificado com a respectiva placa "Edifício BNU" como o chama o arq. Taveira.

Igual identidade e sinalização deveria ter o edifício da Rua Augusta, que foi durante mais de 100 anos a sede do BNU.
Actualmente, o edifício da Rua Augusta pertence à Câmara de Lisboa.
Lá está a placazinha de "património municipal".


Mas eu verifico que em todas as esquinas do edifício se conservam os medalhões do BNU, embora tapados por umas placas da CGD, que podem ser facilmente removidas.


Ainda é visivel tanto do lado da Rua da Prata como da Rua de S. Julião os dizeres do Banco Nacional Ultramarino que durante largos anos ali estiveram.
A minha ideia era manter aquela indicação no edifício, em memória do que foi o maior banco português de todos os tempos e em homenagem a todas as mulheres e homens portugueses que, pelos quatro cantos do mundo, o tornaram realidade.



Claro que os extraordinários e artisticos relevos da fachada da Rua Augusta, esses não foram nem podiam ser retirados e são o testemunho inequívoco do BNU, que esperamos que ali se mantenha por muitos e largos anos.


Além da Caixa Geral de Depósitos, depositária dessa excelente herança, há um grupo de pessoas que pode lutar pela preservação e exaltação da memória dessas mulheres e homens que espalharam, por toda a parte, a nossa cultura e que agora faz de Portugal e da língua portugesa uma das mais importantes do mundo. Esse grupo é o dos antigos empregados do BNU.

segunda-feira, 15 de março de 2010

SEDE na 5 de OUTUBRO


No dia 16 de Julho de 1980, o Conselho de Ministros (Resolução nº 265/80), presidido por Sá Carneiro, resolveu, além doutras nomeações e exonerações para os bancos e seguradoras do estado (que eram todos os portugueses):
" - Nomear vice-presidente e vogais do conselho de gestão do Banco Nacional Ultramarino, respectivamente, os Drs. José de Oliveira e Costa, António Ribeiro Maçarico e Joaquim Ramos de Jesus.
- Exonerar de membros do conselho de gestão do mesmo Banco os Drs. Mário Martins Adegas e Manuel Filipe Pessoa dos Santos Loureiro, por nesta data serem nomeados para novas funções, e José Ribeiro Vitorino, por conveniência de serviço."

Na altura, o presidente do Conselho de Gestão do BNU era o Dr. Oliveira Marques, que embora fosse também "Oliveira", nada tinha com o Dr. Oliveira e Costa, nem de família física nem de família política. O Dr. Oliveira e Costa já tinha sido Secretário de Estado das Finanças pelo PPD (tinha sido afastado por o terem acusado de ter perdoado 200 mil contos de impostos a um amigo) e o Dr. Oliveira Marques, embora não se soubesse de qualquer ligação ao partido, tinha sido nomeado pelo Partido Socialista.
Dizia-se, na altura, que o Sá Carneiro não queria expressamente pôr fora o Dr. Oliveira Marques para colocar um seu "boy" na presidência do BNU e então inventou o cargo de vice-presidente (que até então não existia) para o seu homem controlar o presidente.

A guerra mais visível que se seguiu foi a da compra do edifício da 5 de Outubro.
O presidente foi acusado de estar a exigir do vendedor do edifício uma comissão choruda.
O vendedor foi contactado por pessoas que diziam serem os "homens do presidente" e que ele nunca apareceria mas enviava sinais. Por exemplo, diziam-lhe que se ele, vendedor, dissesse que dava a comissão, seria feita uma resolução pelo Conselho de gestão do BNU, neste sentido ou naquele.
O Vendedor, que precisava de vender como de pão para a boca, começou por se defender, gravando todas as conversas desses "homens do presidente". Procurou aliados dentro do BNU e sobretudo de homens chegados ao Vice-presidente, que atacou o presidente, mas este defendeu-se alegando que qualquer tentativa de uso do seu nome para sacar comissões era abusiva e propunha até que não se comprasse o edifício para evitar mais problemas.
Mas o caso é que o negócio, com avanços e recuos, com episódios de actas do conselho perdidas nos corredores do banco e encontradas "por acaso" por algum interessado, e outras peripécias, acabou por concretizar-se.

O edifício estava destinado a hotel e o BNU teve de fazer grandes alterações ao projecto. Para isso contratou o arquitecto Taveira, que disse posteriormente que este foi o melhor projecto da sua vida.
Ainda agora o Arq. Taveira tem e defende os seus direitos de autor sobre o edifício e, segundo sei, ele não permitiu que fosse alterado o balcão da agência da 5 de Outubro, como recentemente pretendia a Caixa Geral de Depósitos.
O anterior dono do edifício, pegou no produto da venda e fez o Hotel Continental, contíguo ao BNU.

Recordo-me de que quando, já nos finais dos anos 80 (era presidente do BNU o Dr. Costa Pinto), ficou pronta a nova sede, já muita gente estava saturada da baixa pombalina, pela sua falta de condições modernas de mobilidade. Não havia estacionamentos para o movimento cada vez maior de carros e os transportes públicos acabavam no Rossio.
Desde a Praça da Figueira: "Meu Castelo de S. Jorge"

Eu saía no metro do Rossio, na Praça da Figueira e invariavelmente olhava para o Castelo de S. Jorge à procura de inspiração poética, mas não cheguei a fazer nenhuma poesia...
Rua Augusta

Descia a Rua da Prata ou a Rua Augusta, que na altura tinha trânsito automóvel e lá iamos e vínhamos sempre a correr e aos encontrões com outros trabalhadores ou outras pessoas que andavam às compras, a passear ou a ver montras na baixa.
Tempos... que já lá vão.

domingo, 14 de março de 2010

BANCO do POVO


No blog, coloquei um comentário sobre o AUTOBANCO . Na altura foi uma inovação no atendimento aos clientes. Estes não teriam de sair do seu automóvel para efectuar os seus depósitos, isto em plena Rua S. Julião,(hoje era impossivel). Lembro-me do primeiro dia, aquando da inauguração, os carros faziam fila contornando o quarteirão, a explicação era simples; o banco oferecia um pequeno cofre, com os dizeres: "Banco do Povo", a todos os que fossem efectuar depósitos naquele mesmo dia.
O lema era: "BNU-O BANCO DO POVO AO SERVIÇO DE PORTUGAL"!

Como eu não tinha carro fui mesmo a pé fazer um pequeno depósito ganhando assim o almejado cofre.

Como achei engraçado recordar esta parte da história do nosso banco coloquei em anexo as fotos do velhinho cofre.

Um abraço
Manuel Araujo

quinta-feira, 11 de março de 2010

ROMEU CORREIA


Romeu Henrique Correia (1917-1996) nasceu e faleceu em Almada.
Trabalhou 35 anos no BNU.
É, sem dúvida, um dos mais ilustres empregados do Banco Nacional Ultramarino.
Começou como cobrador, pelas ruas de Lisboa, andanças que o inspiraram para as suas obras.
A sua obra está traduzida em numerosas línguas e tem sido objecto de teses académicas, em universidades portuguesas e estrangeiras.
Em 1962 e 1975, recebeu o prémio Casa da Imprensa; em 1984, o Prémio de Teatro 25 de Abril, da Associação Portuguesa de Críticos de Teatro; e em 1962 o Prémio da Crítica pela peça O Vagabundo das Mãos de Oiro.
Obras: Sábado sem Sol (contos, 1947), Trapo Azul (romance, 1948); Calamento (romance, 1950); Gandaia (romance, 1952); Casaco de Fogo (teatro, 1953); Desporto-Rei (romance, 1955); Céu da Minha Rua (Isaura) (teatro, 1955); Laurinda (teatro, 1956) Sol na Floresta (teatro, 1957); O Vagabundo das Mãos de Oiro (teatro, 1960); Bonecos de Luz (romance, 1961); Bocage (teatro, 1965); Jangada (teatro,1966); Amor de Perdição (teatro, 1966) 3 Peças de Romeu Correia: Laurinda, Sol na Floresta e Céu da minha rua (teatro, 1968); O Cravo Espanhol (1970); Roberta (1971); Francisco Stromp (biografia, 1973); José Bento Pessoa (biografia, 1974); Um Passo em Frente (contos, 1976), Os Tanoeiros (nova versão de Gandaia)(romance, 1976); Homens e Mulheres Vinculados às Terras de Almada – nas artes nas letras e nas ciências (história, 1978); As Quatro Estações (teatro, 1981) Jorge Vieira e o Futebol do seu tempo (biografia, 1981) Tempos Difíceis (teatro, 1982); O Tritão (romance, 1982),; Grito no Outono (teatro, 1982); O Andarilho das 7 Partidas (teatro, 1983); O 23 de Julho (narrativa, 1986) Portugueses na V Olimpíada (ensaio, 1988); Cais do Ginjal (novela, 1989); Palmatória (1995).
Em 1958, a sua peça Céu da Minha Rua foi transmitida pela RTP, com Amália Rodrigues no papel principal.




Em Almada é divinizado.
A prova disso é:


Escola Secundária Romeu Correia

Forum Municipal Romeu Correia

Lembro-me muito bem dele na sede do BNU, embora não tivesse privado com ele.
Quem o conheceu de perto, admira-o como um grande homem, humilde na sua vasta cultura e preparação literária.
O Sr. França foi um dos privilegiados que privaram com ele no BNU.
Diz o Sr. França que ele esteve sub-aproveitado no Banco até ao 25 de Abril, só porque ele não era da situação.
Quando veio a revolução, o Romeu Correia estava a contar cupões dos títulos na cave da sede. Depois do 25 de Abril, foi colocado em lugar mais condigno da sua categoria e terminou no Departamento de Inspecção, onde se reformou.



O Sr. França diz que costumava parar com ele no Salão Império, junto às escadinhas do elevador de Santa Justa e lhe ofereceu um livro que ainda guarda.

quarta-feira, 10 de março de 2010

11 de MARÇO



No dia 11 de Março de 1975, eu trabalhava nos câmbios, no rés-do-chão da sede. Era Presidente da República o General Costa Gomes e Primeiro Ministro o Brigadeiro Vasco Gonçalves.


O General Spínola tinha sido afastado do poder e falava-se de que ele e a sua maioria silenciosa andavam a preparar um golpe. E, de facto, nesse dia, lá veio então o golpe. Foi um “drôle” de golpe, como diriam os franceses.

Guerra em directo na TV
Recordo as cenas de dois militares em directo na televisão, em frente ao RALIS, a discutir porque é que estavam a fazer o golpe e se não tinham recebido os panfletos, mas que panfletos, então e por uns panfletos vocês desatam aos tiros e não sei que mais.
Conclusão, à tarde, o Spínola e o seu grupo já estavam fugidos em Espanha. Diz-se que estavam refugiados na zona de Badajoz mas, em Vilar Formoso, ainda hoje se indica uma pensão, na estrada antes de chegar a Ciudad Rodrigo, onde terá dormido o Spínola, nesse dia. Sabe-se lá?
Mas o que interessa desse dia é que daí nasceu verdadeiramente o PREC, com a exigência de dar “um decisivo impulso à política antimonopolista e antilatifundista” que começou de imediato a ser proclamada através de manifestações e notas políticas.

No subsequente dia 13 constitui-se o Conselho da Revolução, que iniciou de imediato a nacionalização dos sectores básicos da economia:
Banca através do DL 132-A/75 de 14.
Seguros DL 135-A/75 de 15.03.
Em 16 de Abril, empresas petrolíferas(DL 205-A/75), Caminhos de Ferro Portugueses (DL 205-B/75), a Companhia Nacional de Navegação (DL 205-C/75), a Companhia Portuguesa de Transportes Marítimos (DL 205-D/75), a TAP (DL 205-E/75), a Siderurgia Nacional (DL 205-F/75) e as empresas de energia eléctrica (DL 205-G/75).
Em 9 e 13 de Maio, cimenteiras (DL 221-A/75), de celulose (DL 221-B/75) e tabacos (DL 228-A/75).
Em 5 de Junho, Metropolitano de Lisboa (DL 280-A/75), a Empresa Geral de Transportes (DL 280-B/75) e 54 empresas de camionagem (DL 280-C/75).
Em 3 de Julho, Carris (DL 346/75).
A 14, 21, e 22 de Agosto, Pirites Alentejanas e Sociedade Mineira de Santiago (DL 434/75), a Companhia Nacional de Petroquímica (DL 453/75) e a Sociedade Portuguesa de Petroquímica, o Amoníaco Português e os Nitratos de Portugal (DL 457/75).
Em 1 e 25 de Setembro, Estaleiros Navais de Setúbal e os Estaleiros Navais de Viana do Castelo (DL 487/75) e a CUF (DL 532/75).
Em 2 de Outubro, (DL 561/75) Sociedade de Gestão e Financiamento e a Sociedade Geral de Comércio, Indústria e Transportes (do grupo CUF).
Em 2 de Dezembro, estações de rádio (DL 674-C/75) e a RTP (DL 674-D/75).
Em 17 de Dezembro,Sociedade de Fainas do Mar e Rio (DL 701-C/75), transportes fluviais do Tejo (DL 701-D/75) e a Sociedade de Cargas e Descargas Marítimas (DL 701-E/75). Em 20 de Julho, (DL 572/76) pesca.
Em 29 de Julho de 1976, (DL 639/76) jornais.

O Banco Nacional Ultramarino já tinha sido nacionalizado pelo Decreto-Lei nº. 451/74 de 13 de Setembro, que nacionalizou também o Banco de Portugal e o Banco de Angola, ou seja os bancos emissores.
Essa nacionalização não tinha representado qualquer significado em termos revolucionários, uma vez que estes bancos já eram maioritariamente do Estado.

Recordo-me de um dia, na cantina da cooperativa, no 1º andar da Rua da Prata, eu estar na mesa com o Sebastião Fagundes, o Narciso e o Tavares a falar no papel do BNU para a economia do sistema.
O Fagundes dizia que o nosso Banco era o sustentáculo dos empregos, e que estava a pagar a frota da TAP, a Ponte sobre o Tejo, compromissos que vinham de trás e que, com os meios do banco, não era difícil assegurar.

E quando já eu trabalhava no Secretariado Operacional, no final dos anos 70, tínhamos um dossier das responsabilidades relativas à reforma agrária que o BNU tinha financiado e que teve de esquecer e que perfazia milhões largos.
Bom…

Voltando ao 11 de Março.
O nosso banco já era do estado.
Mas houve quem, talvez querendo entrar na festa, arranjasse cartazes a substituir o nome para "BANCO DO POVO",que apareceram na fachada da sede e dalgumas agências de Lisboa, que eu vi. Não pegou. Alguns cartazes lá se aguentaram uns dias, mas não passou disso a tentativa.
Em todo o caso, o dia 11 de Março ficou indelevelmente ligado à nacionalização da banca portuguesa. Ainda eu estive pelo menos dois anos nos câmbios e nos balcões do rés-do-chão da sede eram colocados, nesse dia, vasos com flores comemorativas desse evento.

Actualmente, o 11 de Março é, a nível europeu e também nosso,
lembrado o ataque da Al-Qaeda na estação de comboios de Madrid, que ceifou imensas vidas inocentes.
Um minuto, uma hora, um dia, um ano, um século de silêncio não chegará para desagravar.