segunda-feira, 15 de março de 2010

SEDE na 5 de OUTUBRO


No dia 16 de Julho de 1980, o Conselho de Ministros (Resolução nº 265/80), presidido por Sá Carneiro, resolveu, além doutras nomeações e exonerações para os bancos e seguradoras do estado (que eram todos os portugueses):
" - Nomear vice-presidente e vogais do conselho de gestão do Banco Nacional Ultramarino, respectivamente, os Drs. José de Oliveira e Costa, António Ribeiro Maçarico e Joaquim Ramos de Jesus.
- Exonerar de membros do conselho de gestão do mesmo Banco os Drs. Mário Martins Adegas e Manuel Filipe Pessoa dos Santos Loureiro, por nesta data serem nomeados para novas funções, e José Ribeiro Vitorino, por conveniência de serviço."

Na altura, o presidente do Conselho de Gestão do BNU era o Dr. Oliveira Marques, que embora fosse também "Oliveira", nada tinha com o Dr. Oliveira e Costa, nem de família física nem de família política. O Dr. Oliveira e Costa já tinha sido Secretário de Estado das Finanças pelo PPD (tinha sido afastado por o terem acusado de ter perdoado 200 mil contos de impostos a um amigo) e o Dr. Oliveira Marques, embora não se soubesse de qualquer ligação ao partido, tinha sido nomeado pelo Partido Socialista.
Dizia-se, na altura, que o Sá Carneiro não queria expressamente pôr fora o Dr. Oliveira Marques para colocar um seu "boy" na presidência do BNU e então inventou o cargo de vice-presidente (que até então não existia) para o seu homem controlar o presidente.

A guerra mais visível que se seguiu foi a da compra do edifício da 5 de Outubro.
O presidente foi acusado de estar a exigir do vendedor do edifício uma comissão choruda.
O vendedor foi contactado por pessoas que diziam serem os "homens do presidente" e que ele nunca apareceria mas enviava sinais. Por exemplo, diziam-lhe que se ele, vendedor, dissesse que dava a comissão, seria feita uma resolução pelo Conselho de gestão do BNU, neste sentido ou naquele.
O Vendedor, que precisava de vender como de pão para a boca, começou por se defender, gravando todas as conversas desses "homens do presidente". Procurou aliados dentro do BNU e sobretudo de homens chegados ao Vice-presidente, que atacou o presidente, mas este defendeu-se alegando que qualquer tentativa de uso do seu nome para sacar comissões era abusiva e propunha até que não se comprasse o edifício para evitar mais problemas.
Mas o caso é que o negócio, com avanços e recuos, com episódios de actas do conselho perdidas nos corredores do banco e encontradas "por acaso" por algum interessado, e outras peripécias, acabou por concretizar-se.

O edifício estava destinado a hotel e o BNU teve de fazer grandes alterações ao projecto. Para isso contratou o arquitecto Taveira, que disse posteriormente que este foi o melhor projecto da sua vida.
Ainda agora o Arq. Taveira tem e defende os seus direitos de autor sobre o edifício e, segundo sei, ele não permitiu que fosse alterado o balcão da agência da 5 de Outubro, como recentemente pretendia a Caixa Geral de Depósitos.
O anterior dono do edifício, pegou no produto da venda e fez o Hotel Continental, contíguo ao BNU.

Recordo-me de que quando, já nos finais dos anos 80 (era presidente do BNU o Dr. Costa Pinto), ficou pronta a nova sede, já muita gente estava saturada da baixa pombalina, pela sua falta de condições modernas de mobilidade. Não havia estacionamentos para o movimento cada vez maior de carros e os transportes públicos acabavam no Rossio.
Desde a Praça da Figueira: "Meu Castelo de S. Jorge"

Eu saía no metro do Rossio, na Praça da Figueira e invariavelmente olhava para o Castelo de S. Jorge à procura de inspiração poética, mas não cheguei a fazer nenhuma poesia...
Rua Augusta

Descia a Rua da Prata ou a Rua Augusta, que na altura tinha trânsito automóvel e lá iamos e vínhamos sempre a correr e aos encontrões com outros trabalhadores ou outras pessoas que andavam às compras, a passear ou a ver montras na baixa.
Tempos... que já lá vão.

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