terça-feira, 13 de agosto de 2013

INHAMBANE - Terra de boa gente?

Era assim o vetusto edifício da agência
Sou ainda “caloiro” nesta arte da escrita electrónica, mas passeando por este “lugar”, perguntei a mim mesmo porque não entrar em vez de ficar só a olhar para a montra? Acontece, ainda, que tendo sido colaborador desde o primeiro número do boletim da A.A.E.B.N.U., há uns anos atrás – e ainda hoje não sei porquê - despediram-me. Como qualquer desempregado que procura recompor a vida conclui ser esta uma soberana oportunidade para esclarecer: - ainda escrevo, logo ainda existo! É que, há tempos, nos SAMS (na Fialho de Almeida) logo à entrada, levanta-se de um dos bancos um colega que eu já não via há muito tempo para, muito efusivamente me abraçar dizendo: - Eh pá, julgava que já tinhas morrido, pois há muito não vejo nada escrito por ti no Boletim. Tenho pena que o jornal da minha terra - O Novo Almourol – tenha uma circulação tão circunscrita pois, não fora assim e toda a gente saberia que ainda mexo, embora agora com contornos mais “provincianos”.
Este foi o intróito para justificar o meu aparecimento neste mundo de comunicação onde os ratos, porque comandam as operações, dão-me cabo da cabeça. Ao que chegámos: até os ratos põem e dispõem. Mas, vamos lá, porque bem pior são as ratazanas.
Seja lá como for a realidade é que vou aqui poder invocar uma terra à beira do Índico plantada, à qual me considero ligado por velhos laços de afeição, cidade que não vejo citada nesta página: INHAMBANE (terra da boa gente?). A interrogação é minha, já que não sei se aquela designação, que era a sua divisa no tempo colonial, ainda subsiste. Também, se já não for, não advém daí ao Mundo qualquer mal, já que, historicamente, há alguns estudiosos do assunto que opinam que Vasco da Gama nunca esteve ali.
Cruzei-me com a cidade de Inhambane ia eu ainda nos meus 21 anos. Como o tempo voa. Entrava, por essa altura, como aspirante para a Administração Civil e, pouco depois e pelo mesmo preço, passava a exercer funções de secretário em Homoíne e em Panda e de chefe de posto em Ressano Garcia.
E o pessoal, de fato, menos "usado"...
 Em 1956 volto a Inhambane, agora e para sempre ao serviço do Banco Nacional Ultramarino. A Agência, tal como acontecia com a cidade, já tinha uma provecta idade. Como a imagem sugere o edifício não destoaria num cenário de um filme de caws-boys, só faltando para tal os cavalos dos ditos, amarrados às grades da varanda. Como fotograficamente também se demonstra, o pessoal é que não era assim tão vetusto mas, mesmo assim, daquele conjunto já muito poucos restam. Não obstante a nítida diferença de idade e a idiossincrasia do guarda- livros, era um grupo mais ou menos coeso, mormente nas suas almoçaradas comemorativas a que o dito guarda-livros aderia sempre condicionalmente ao seu imutável preferido menu: pescada cozida com batatas e hortaliça. Chefe é chefe e pescada do Cabo, por aquele tempo, também não era petisco que se recusasse.
Nunca entendi aquela obsessiva preferência por aquele gadídeo, uma vez que a cidade de Inhambane era rica em peixe e mariscos de toda a qualidade e feitio. Adviera-lhe até fama pelos seus inigualáveis carapaus e pelas suas grandes e saborosas tangerinas.
Á parte esse aspecto gastronómico de Inhambane, há que dar particular relevância à grandiosidade e à beleza da sua baía. Ficou para sempre gravado na memória a visão dos “dhow”, com as suas grandes velas triangulares vogando pela imensidão daqueles azuis e verdes esmeralda que, quando o Sol baixava no horizonte cambiavam em matizes deslumbrantes. Também impossível esquecer a magnificência das praias ao seu redor, então ainda em pleno estado selvagem... Agora vejo-as na Internet povoadas por inúmeros e luxuosos resorts. O mundo deu e dará muitas voltas mas, para mim foi esse “primitivismo” da Mãe África, o fetiche que me amarrou aquele lugar, que eu sinto agora longínquo, mas sempre sedutor e inesquecível
 

MAIA PEREIRA