sexta-feira, 30 de abril de 2010

MAIO e o BNU




O mês de Maio é o mês das flores, o mês do dia do trabalhador, o mês (religioso) de Maria.


No 1º de Maio de 1974 eu ainda não estava no BNU mas lembro-me de ter ido à Av. Almirante Reis, acompanhar a manifestação (1ª e única) que se fez em unidade de todos, sem partidos nem centrais sindicais.
Foi o primeiro 1º de Maio que foi feriado em Portugal, como já era pela Europa e por todo o mundo fora. A França foi o primeiro país a proclamar, em 23 de Abril de 1919, como dia feriado o dia 1 de Maio. Em 1920, a Rússia adota o 1º de Maio como feriado nacional, e este exemplo é seguido por muitos outros países.
O mês de Maio está ligado ao nosso Banco porque este foi fundado em Maio de 1864.
Em Maio de 1964, foi celebrado o centenário (1º e único) do BNU com a inauguração da nova sede com entrada pela Rua Augusta, após obras que decorreram vários anos e que transformaram por completo o edifício.
A partir do dia 16 de Maio de 1964 - dia do centenário - passou a sede a ter entrada pela Rua Augusta, com a fachada completamente remodelada, com os dois medalhões em pedra, imbutidos na parede e que ali se mantêm.

O Medalhão da direita representa a caravela do BNU, com uma chaminé...

O medalhão da esquerda representa o escudo de Portugal ao centro e os escudos das sete províncias ultramarinas onde o BNU era emissor.

quinta-feira, 29 de abril de 2010

FERNANDO PESSA no BNU


Fernando Luís de Oliveira Pessa nasceu a 15 de Abril de 1902, na freguesia de Vera Cruz, em Aveiro, e faleceu a 29 de Abril de 2002, em Lisboa.
Faz hoje precisamente oito anos que faleceu o jornalista por nós todos conhecido como o ".. e esta, ein?"
Pois talvez o que muitos colegas não sabiam é que o Pessa começou a sua vida profissional no Banco Nacional Ultramarino.
O pai era médico militar do antigo Regimento Aveirense de Cavalaria n.o 8, tendo sido destacado para exercer funções em África. Fernando Pessa permaneceu em Portugal, com a mãe, passando a sua infância na casa do avô materno, em Penela, perto de Condeixa.
Em 1913, deslocou-se para Coimbra, onde frequentou o liceu Dr. José Falcão. Entrou, posteriormente, para a Faculdade de Ciências da Universidade de Coimbra, com o objectivo de realizar os exames preparatórios para a admissão à Escola de Guerra, no entanto, por motivos de inaptidão física não foi admitido.
Em 1920 foi admitido no Banco Nacional Ultramarino em Coimbra, transferindo-se depois para Lisboa. Já em Lisboa saiu do BNU e foi trabalhar para uma seguradora.
Não esteve muito tempo nos seguros e o seu percurso como jornalista é conhecido de todos.
Só queria aqui ressaltar que entrou para os quadros da RTP apenas a 1 de Janeiro de 1976, já com 74 anos.
A célebre expressão “E esta, hein?” marcou a sua carreira como repórter televisivo. A expressão surgiu como substituto dos palavrões que tinha vontade de dizer quando denunciava situações menos agradáveis do quotidiano do país nos seus "bilhetes postais".
Pelo seu trabalho como correspondente da Segunda Guerra Mundial, Fernando Pessa foi distinguido com a Ordem do Império Britânico. E, em Portugal, a 10 de Junho de 1981, o Presidente da República, Ramalho Eanes, atribui-lhe o título de Comendador.
Reformou-se em 1995, com 93 anos de idade.
faleceu no Hospital Curry Cabral, em Lisboa, poucos dias depois de completar 100 anos.



Quando a sede do BNU se transferiu para a 5 de Outubro, a RTP tinha a sua sede mesmo ao nosso lado. O Pessa andava por ali com outros funcionários da RTP. Recordo-me de uma vez eu ir almoçar ao restaurante da Inácia, na Av. 5 de Outubro, 140, que tinha a uma cozinha caseira muito apreciada, com peixe fresco diáriamente e uns preços baixos.O meu amigo, com 50 anos, andava em dieta a comer peixe cozido sem sal e de beber, só água. Nada de café nem cheirinhos.
Entra o Pessa, já com 90 anos, com mais uns colegas da RTP e começou logo por pedir uma imperial e umas pataniscas e perguntou se ainda havia mão de vaca com grão. No final da refeição, o Pessa amanda-se a dois cafés e dois balões de whisky.
O meu amigo ficou doido e jurou que não ia acreditar mais na treta das dietas que lhe tinham receitado.

Uma das famosas reportagens do Pessa foi sobre o Leão de Rio Maior.
Recordemos

quarta-feira, 28 de abril de 2010

MAIS CHAMIÇOS


Um site sobre Moçambique, refere que o Francisco de Oliveira Chamiço era maçónico e que era cunhado do também maçónico Joaquim José Machado.
Mas Joaquim José Machado foi casado com Mariana Cardoso de Melo e o Francisco Chamiço foi casado com Claudina Freitas Guimarães.
Pelos nomes das respectivas mulheres, não sei qual delas é irmã de qual deles. Mas isto dos nomes, às vezes não é o que parece.

Sanatório Santana da Parede

Seja como for, e a propósito de mulheres, a D. Claudina, mulher do Francisco Chamiço está ligada ao Sanatório de Sant'Ana, actualmente, Hospital de Sant'Ana na Parede.
Nos fins do século XIX existiu na Europa um grande movimento de combate contra a tuberculose e em todos os países civilizados começaram a surgir “Sanatórios”.
O Dr. Sousa Martins foi um dos iniciadores da luta contra esse mal. A D. Claudina Chamiço deu-lhe todo o apoio para que se construísse o Sanatório de Sant’Anna, e ela própria o inaugurou no dia 31 de Julho de 1904 e o legou à Misericórdia.
Há uma Rua Claudina Chamiço em Caldas da Rainha.

O Joaquim José Machado tem um largo em Lisboa, na freguesia de S. Domingos de Benfica.
General Joaquim José Machado

É considerado um dos nomes mais emblemáticos da presença portuguesa em Moçambique.
Foi governador da Índia e Governador-Geral de Moçambique por três vezes: 1889-1891, 1900, 1914-1915. Chegou a Moçambique em 7 de Março de 1877. Organizou e instalou os Serviços de Obras Públicas. Foi a Joaquim José Machado e aos serviços que chefiou que se ficaram a dever algumas das obras mais espectaculares que ainda hoje se observam em Moçambique. As primeiras das quais serão os Caminhos de Ferro e o traçado da cidade de Lourenço Marques. Foi Joaquim José Machado quem elaborou o projecto de ligação ferroviária entre Lourenço Marques e Pretória e quem dirigiu a sua construção.

https://www.youtube.com/watch?v=5neYTYeXoH4


O Joaquim José Machado é pai de Álvaro Cardoso de Melo Machado, fundador do escotismo em Portugal e chefe do governo de Moçambique, quando o seu pai era governador da província, entre Abril de 1914 e Maio de 1915.

O Álvaro Cardoso de Melo Machado foi governador interino de Macau (onde tem uma rua com o seu nome) entre 17 de Dezembro de 1910 (com apenas 27 anos) até 14 de Julho de 1912. Foi também administrador-delegado, por parte do Estado, do caminho de ferro de Benguela.

terça-feira, 27 de abril de 2010

Drª ANABELA FERREIRA


A Drª Anabela Conceição Ferreira trabalhou comigo no Contencioso do Banco Nacional Ultramarino.
Foi uma mulher lutadora.
Antes de entrar no Contencioso trabalhou na Biblioteca, na Rua 1º de Dezembro e nas Operações Gerais na Rua Augusta.
Entrei no BNU, no serviço de Pessoal, na Rua Augusta, 73, em 15 de Junho de 1970.
Morava na Av. dos Estados Unidos e saía no Metro dos Restauradores. Por incumbência do Dr. Herlander Machado, eu verificava o livro de ponto dos serviços da Rua 1º de Dezembro, nomeadamente Biblioteca e serviço de obras.
A Anabela era uma das empregadas que via todos os dias na 1º de Dezembro. A seguir ao 25 de Abril a Biblioteca foi extinta e ela foi tranferida para as Operações Gerais, na Rua Augusta, onde trabalhou até se tranferir para o Contencioso, já licenciada em Direito, em 1989.
No contencioso do BNU, na 5 de Outubro, foi sempre muito interessada em trabalhar na área do contencioso até que no dia 17 de Maio de 1996 me apareceu a chorar no Banco e a dizer que tinha acabado de receber a sentença de morte. Efectivamente em 14 de Setembro de 1996, morreu no Hospital dos SAMS.
Aqui lhe deixo a minha homenagem pela coragem com que enfrentou a doença e pela vontade que sempre teve em progredir na vida.

Augusto Trindade Rodrigues.

segunda-feira, 26 de abril de 2010

25 DE ABRIL DE 1974


Em 25 de Abril de 1974, eu já tinha feito a tropa e estava a estudar em Lisboa.
Apresentei-me no Departamento de Pessoal do BNU, na Rua Augusta, 63, no dia 28 de Maio de 1974. Apresentou-se também naquele dia uma rapariga, bonita, que se chamava Laura. Eu fui colocado nos Câmbios; ela na agência de Algés. Nunca mais a vi.
O dia 25 de Abril de 1974 e os dias subsequentes foram dias de festa e boa disposição. Toda a gente estava esperançada de que a vida ia melhorar.
O Banco Nacional Ultramarino era um banco maioritariamente do Estado e acabou por ser nacionalizado em 13 de Setembro de 1974 (Dec.-Lei 451/74) pelo governo de Vasco Gonçalves, sendo Ministro das Finanças, José da Silva Lopes.
Após o 25 de Abril todos virámos revolucionários. Na Repartição de Câmbios, os mais velhos eram do Partido Comunista, os mais novos éramos da UDP ou do MRPP.
Vestir tinha que ser a condizer, ou seja, barbas e cabelo à Che Guevera. Olha o meu cartão do sindicato, feito em Novembro de 1974: Não pareço o Che?
Os tempos passaram e lá fomos esquecendo a moda revolucionária. Em 1980, o Acácio fez-me este cartão do BNU, assinado pelo Dr. José Manuel Sampaio Cabral que era vogal do Conselho de Gestão do BNU. Na foto estou já sem barbas e com o cabelinho cortadinho e penteado. A verdadeira revolução económica, com as nacionalizações começou no dia 11 de Março de 1975 .
Respirava-se revolução por todos os lados e quem não fosse pela revolução era apelidado de reaccionário. Cada um procurava manifestar posições mais revolucionárias que o outro.
Tenho comigo um bilhete dos transportes de Lisboa, de 1975, que no verso dizia: A revolução portuguesa precisa de ti participa nela colaborando desenvolve-a trabalhando defende-a produzindo.
1975 foi também o ano das ocupações de empresas e propriedades agrícolas e urbanas (casas).
A sede dos SAMS, na Marquês da Fronteira foi ocupada pelos sócios do nosso sindicato, durante vários dias, até se tornar efectiva, contra a vontade dos proprietários. Eu fui um dos que fui dispensado do serviço no Banco para ir fazer umas horas no palacete. O palacete acabou por ser comprado pelo Sindicato ao proprietário por 30 mil contos, após avaliação determinada pelo tribunal de Lisboa. Ali se instalaram por vários anos os serviços dos SAMS e actualmente está à venda por 25 milhões de euros.

O edificio da Marquês de Fronteira, conhecido como "Palacete Leitão" é da autoria do arq. Nicola Bigaglia e foi construído em 1908. Este arquitecto está ligado a belas obras de Portugal, dos fins do séc. XIX e princípio do sec. XX como o palácio do Bussaco, o Palacete Lima Mayer e o do Lamberthini, ambos na Av.Liberdade e a casa da Condessa de Edla na Parede.
A casa da Parede foi abaixo e actualmente está lá um condomínio
A Condessa de Edla foi a 2ª mulher do Rei D. Fernando, marido da rainha D. Maria II e pai do Rei D. Luis, que está ligado à fundação do Banco Nacional Ultramarino.
O mundo é pequeno. Não é que um sobrinho dum amigo meu e nosso colega do BES vai casar com uma bisneta da Condessa de Edla? Que sejam felizes para sempre.

sexta-feira, 23 de abril de 2010

CHAMIÇO - Empresário



O fundador do Banco Nacional Ultramrino, Francisco de Oliveira Chamiço, era um dos sócios da firma F. Chamisso Filho e Silva Lda, que produziu o vinho do Porto em 1851 e à qual já aqui nos referimos.
Segundo consta em documento da Biblioteca Nacional, O Sr. Franscisco Chamiço foi gerente das minas de estanho da Mostardeira e de Trás-os-Montes.
Sabemos que a mina de estanho da Mostardeira deu início à exploração de cobre em 1863, ou seja, no ano anterior à fundação do BNU.
A mina tinha dois poços, um para extracção e outro para esgoto de água subterrânea, até uma profundidade de cerca de 100 metros e o campo de lavra estava dividido em seis pisos.

Mina da Mostardeira, no Alentejo


A mina laborou durante cerca de 20 anos. Até 1894 foram exportadas cerca de 2.000 toneladas de cobre.

Ora o documento da Biblioteca Nacional diz que em 1875 o Sr. Chamisso era gerente da mina da Mostardeira e da mina de estanho de Trás-os-Montes, tendo contraido dívida de 25.332$036 réis no BNU para a mina da Mostardeira.
Ao que parece a mina da Mostardeira terá encerrado nos anos 80 do século XIX. Não sei se a mina deu para pagar as dívidas ou se teve o Sr. Chamisso que arcar com elas. Isso é que não encontrei em nenhum documento.

ALMOÇO - CONVÍVIO - 26 de Maio

O AMIGO ARAUJO LEÃO DEU A IDEIA E VAMOS AVANÇAR PARA O RESTAURANTE PALMEIRA, NA RUA DO CRUCIFIXO, ÀS 12 HORAS.
Este almoço é completamente informal.
Outros podemos fazer e sempre abertos a todos os amigos do BNU.
Pensámos que os colegas que trabalham poderão dar lá um salto e despachar-se sem problemas no serviço. Por isso marcámos para as 12 horas.
está marcado para vinte, mas esperamos mais 4 ou 5.
Se houver mais interessados, então subimos as marcações para o número que tivermos até ao dia 25.


O meu amigo Joaquim Matos, depois do comentário do amigo Araújo Leão, levantou a ideia de um almoço.


Vamos embora!
Tudo o que seja para manter a chama, cá estamos. Eu vou!
Então propunha que se aceitassem sujestões. Por exemplo, definir o local, a "nossa" Baixa? o Campo Pequeno? Fora de Lisboa? Definir o dia: Dia de semana? Fazer inscrições para podermos marcar o restaurante: podia ser feita a inscrição, aqui no blog, através de comentário, ou quem não soubesse ou não conseguisse introduzir o comentário, através de mail para o a.ritopereira@gmail.com

ARAUJO DIZ:
Pronunciando-me sobre o possível encontro-convivio-repasto, acho uma ideia genial.
Ai de mim querer antecipar-me aos demais pois todas as opiniões serão bem vindas!
Lembrei-me da carismática e histórica “Palmeira” na Rua do Crucifixo, bem ao lado do Metro Baixa-Chiado.
Era neste Restaurante Cervejaria que, no fim de um dia de trabalho, a malta se recolhia e discutia calorosamente os amores e desamores políticos e clubistas.
Ali se formava, inconscientemente, uma espécie de tertúlia onde cabiam empregados do tribunal, empregados bancários, operários, pessoal dos seguros e notários. Enfim, uma casa que nos acalmava antes de rumarmos à nossa própria casa e nos temperava a alma e o “fígado”, isto depois de umas frescas “lourinhas” empurradas gulosamente com tremoços.
Um abraço
Araujo

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Rua Augusta - Cofres


A Câmara de Lisboa comprou por 21 milhões de euros o edifício da Rua Augusta, à Caixa Geral de Depósitos, onde já funciona o Museu da Moda e do Design (MUDE).
No edífício ainda funcionam alguns departamentos da CGD, nomedamente, os cofres, que agora terão de ser desactivados para serem ocupados pelo MUDE.



Em 1964, ano em que foram inauguradas as obras da sede, a Caixa Forte do BNU era considerada a melhor da Europa.


Em 1955, foi apresentado um projecto na Câmara Municipal de Lisboa, feito pelo Arq. Luis Cristino da Silva, com alterações na cave do edifício da Rua Augusta, para a construção de três casas fortes, respectivo acesso independente e um caminho de ronda destinado ao seu isolamento e protecção e, no rés-do-chão, fazer a entrada principal do público no lado da R.Augusta,criando-se um espaço vestíbulo onde se desenvolveriam as escadas privativas da Administração e de acesso às casas fortes de aluguer.

terça-feira, 20 de abril de 2010

NUNO BERMUDES


Tenho estas fotos do Nuno Bermudes que não são dignas dele, mas pronto. Quem o conheceu pode ver o seu geito de estar e andar confirmado nestas fotos.


Nuno Fernandes Santana Mesquita Adães Bermudes, nasceu em Moçambique no dia 30 de Dezembro de 1921, veio para Lisboa, onde fez os seus estudos, voltou para Moçambique em 1947 e voltou para Lisboa em 1975, e aqui faleceu em 1997.
Era filho de Félix Bermudes, escritor e desportista, fundador do Sport Lisboa e Benfica, várias vezes presidente do clube e considerado um dos seus símbolos e um dos melhores presidentes de sempre do SLB, que financiou por várias vezes.
Félix Bermudes foi o autor do primeiro hino do Benfica, "Avante, avante p'lo Benfica", (clicar para ouvir a música) que o Salazar proibiu por se confundir com o "Avante" do Partido Comunista.

Foi também o Félix Bermudes o autor do argumento do filme "O Leão da Estrela", interpretado, pelo António Silva e pelo Artur Agostinho. Eram alturas dos cinco violinos sportinguistas e concerteza que o Félix Bermudes, grande desportista, também seria um admirador dos bons atletas do Sporting.



Pois o Nuno Bermudes trabalhou comigo no Secretariado Operacional.
O Dr. Casanova, sabendo das suas qualidades literárias, deu-lhe o cargo de rever o português das cartas e circulares que nós fazíamos para as agências e para outros bancos. Penso que nunca o BNU terá tido tão bons escritos...

Nos intervalos das suas revisões de texto, o Nuno, sempre com um copo de whisky na gaveta semi-aberta, que ia bebericando, fazia as suas poesias e muitas vezes o vi a contar, com os dedos, as sílabas dos seus poemas.

O cantor Luís Cília fez uma canção com uma letra do Nuno. Lembro-me perfeitamente de o Nuno me ter dito que o Luís Cília, o poeta da revolução de Abril, o tinha contactado para poder usar a sua poesia.
A poesia era a seguinte:

Saborear-te a boca devagar,
como a um fruto raro e sumarento,
e cada rijo seio te apertar,
num misto de prazer e sofrimento.

Depois, beijar-te o ventre e deslizar
por ele, num tão macio movimento
que de ave mais parecesse um adejar
do que um afago húmido e lento.

E só então, te possuir, amor,
teu corpo penetrando ferozmente,
nos braços te apertando com ardor,

até, no estrebuchar do frenesi,
imaginares que, em fogo, uma torrente
de lava, em ondas, desaguara em ti.

Nuno Bermudes é considerado um dos melhores escritores, poetas e críticos moçambicanos.
O seu primeiro livro de poemas "O Poeta e o Tempo" foi publicado, em Lourenço Marques e foi galardoado com o prémio Rui de Noronha.
Em 1959, aparece a colectânea de contos, "Gandana", que obtem o prémio António Enes, tendo sido seleccionado o conto "Gandana", em 1980 para figurar na "Frankfurt Book Fare" de Frankfurt.
Foi redactor chefe do jornal "Notícias" de Lourenço Marques, no qual criou a página "Moçambique 58" na qual colaboraram, a seu convite, alguns dos nomes mais representativos da literatura e arte moçambicana.
Devido à intervenção do Nuno Bermudes o poeta José Craveirinha foi integrado como repórter do jornal, mas a sua enérgica acção em defesa do José Craveirinha, perseguido pela PIDE, e de outros colegas de redação, incompatibilizou-o com a administração do jornal e saiu.

Nuno Bermudes teve o seu percurso literário marcado pela poesia, por Moçambique e pelo Brasil. A sua primeira obra, O Poeta e o Tempo, foi publicada em 1951. No seu percurso poético seguiram-se, entre outras, Exílio Voluntário (1966), As Paisagens Perdidas e Outros Poemas (1980) e Brasil Redescoberto: Poesia Atlântica (1983).
Em prosa, publicou, entre outras obras, Gandana e Outros Contos (1959), Moisés (1981) Eu, Caçador, e Tu, Impala e Outras Histórias de Homens e Bichos (1983), Casa da Margem Esquerda e Outras Histórias (1985).

Tenho comigo dois livros, com dedicatória do Nuno, um deles o romance, "Moisés" com capa da sua amiga Maluda.


O outro livro que eu tenho do Bermudes é o livro de contos "Casa da Margem esquerda e outras histórias", com capa do amigo José Pádua.



O Pádua visitava muito o Bermudes no BNU e fez-nos vários desenhos como os que já aqui citamos com a poesia do Nuno "Natal com D. Quixote"

ACÁCIO

Falaram alguns colegas do Acácio.
Era realmente uma personalidade extraordinária.
Não sei o será feito dele.
O que muitos colegas não saberão é que ele era considerado o melhor artista português a trabalhar o bronze.
Concorreu e ficou em segundo lugar para a construção da estátua dedicada à MÃE, para ficar em frente à maternidade Alfredo da Costa em Lisboa.
Quem ganhou foi o escultor Rogério da Fonseca Machado, que fez a estátua em 1984 e foi inaugurada no dia mundial da criança, 1 de Junho de 1988.
O Acácio ofereceu-me o protótipo que ele apresentou para o concurso.
Está guardado religiosamente.

Para podermos comparar, apresento aqui uma foto do protótipo do Acácio


e da estátua que ganhou.



O Acácio também me ofereceu o protótipo que o escultor Artur Gaspar dos Anjos Teixeira lhe tinha oferecido do monumento aos perseguidos que está em Almada.



terça-feira, 13 de abril de 2010

História do BNU




Caro Rito Pereira
Para inclusão no teu (nosso) blog, envio-te um trabalho que considero excelente e muito completo, sobre a história do BNU, que serviu de tese de doutoramento de uma colega nossa.
É evidente que o trabalho assenta em grande parte na informação constante dos relatórios do Banco, pelo que especialmente durante o período do Estado Novo, possui uma grande carga ideológica de apologia do regime.
Por outro lado, a informação pós 25 de Abril é muito reduzida e não espelha o grande esforço financeiro feito pelo BNU no apoio às centenas de empresas descapitalizadas, ou abandonadas pelos respectivos patrões, acção extremamente importante para a consolidação da Democracia em Portugal, bem como o esforço e profissionalismo de todos os trabalhadores que, ao longo de um processo extremamente difícil e conturbado, sempre souberam ( de um modo geral ) assegurar o funcionamento do Banco e a confidencialidade da informação.
Um grande abraço
Joaquim Matos

NOTA: Este trabalho que estava disponível on-line, no site da CGD, foi retirado. Não vi qualquer explicação embora admita que tenha sido dada em qualquer altura em qualquer sítio por alguém. 14-10-2016

PRIMEIRA PROMOTORA COMERCIAL

Esta foto representa o 1º Grupo de Promotores Comerciais do BNU. Foi tirada
no ultimo dia da formação-01.03.1991,e fomos apresentados pessoalmente ao
Presidente na altura-Dr.João da Costa Pinto,que nos recebeu com uma
afabilidade e simpatia incríveis.
Eu era a única senhora do grupo e desde o primeiro dia que fui nomeada Porta
voz das dores e alegrias que nos assolavam... Foi uma experiencia
profissional e humana excelente.
Lucinda

PARABÉNS, pela criação do blogue. Sou a Lucinda Emilia Rafael Santos, entrei no BNU em Loulé em 1973 ,em 1976 fui para Faro onde residia,em 1993 inaugurei como responsável, a Agencia do Mercado,em 1997 fui transferida para Loulé,como gerente e reformei-me em 2004 já no ambiente CGD.
Era uma apaixonada pelo nosso BNU. Fui a primeira Promotora Comercial senhora. Iniciei essa função em 1991 e adorei. Posso resumir a minha carreira no Banco como a época mais feliz da minha vida.
Tenho algumas recordações : blocos,revistas do Contacto,fotografias,etc. Vou enviar-lhe uma foto e uma folha de presenças do curso de promotores.


Resido em Loulé o que não me facilita muito a presença nos encontros organizados pela AAEBNU, mas vou tentar ir a alguns, para rever o pessoal.
Gostei de ver o Sr. Lobão e o Sr.Palma, meu colega de curso de promotores comerciais.Que é feito dos outros?
Até Á PROXIMA .
UM abraço fraternal desta eterna “ultramarina”
Lucinda-empregada 4847

quarta-feira, 7 de abril de 2010

PIC-NIC NO CASTELO

6º andar da Rua Augusta - Que beleza!!!

Em 1977 fui trabalhar para o Secretariado Operacional. O Director era o Dr. José da Silva Casanova, que depois saiu para Londres e por fim guindou-se a altos vôos, sendo nomeado presidente de uma seguradora. Encontrei-o já reformado. Tinha tido uma trombose mas estava a reagir bem. A última vez que o vi já tinha tido outra trombose e já não estava nada bom. Não sei o que será feito dele.
O Chefe de serviço era o Sr. Mósca. Tinha trabalhado como gerente na Régua e em 1967 foi substituido pelo Dr. Casanova e via-se que eram os dois unha com carne.
O Sr. Olimpio José Mósca Òvelha (OMO, como ele assinava) sei que foi finalista do liceu de Setúbal, em 1937 e que teve como colega de turma o famoso advogado Dr. Sidónio Pereira Rito, que eu ainda conheci. Uma sobrinha do Dr. Sidónio Rito, a Dr. Dulce Pereira Rito, foi contratada pela Drª Marta Cochat Osório, como advogada para o contencioso da CGD, que já integrava o BNU. É minha amiga e tratamo-nos por primos, tanto do lado do Rito como do lado do Pereira. Mas, por incrível que pareça, não temos nenhum vinculo familiar, nem mesmo longínquo, que nos ligue, pelo menos que tivéssemos descoberto.

O Secretariado Operacional fazia normas e instruções para os serviços e agências do BNU. Por essa razão depois passou a chamar-se Serviço de Normas, integrado no Secretariado Geral, já com o Dr. Herlander Machado, como Director Coordenador e com o Sr. Mósca colocado como sub-director no Departamento de Crédito do Sul e Ilhas.
Pois ainda com o Sr. Mósca como chefe de serviço, sucedeu que fomos remodelados e enviados provisoriamente para o 6º andar - Terraço - da Rua Augusta. O Provisório, como quase sempre acontece, lá se foi mantendo e nós até acabámos por gostar, de tal forma que quando, passados anos, fomos outra vez mudados, já nos custou a transição.

Com vistas para o arco da Rua Augusta

O Terraço era, de facto, uma maravilha. Pelos vistos, aquele 6º andar tinha sido feito, pelos antigos governadores para restaurante da administração.
Parece que agora o António Costa, Presidente da CML, dona do prédio, quer voltar a pôr ali um restaurante. Não tem mau gosto.
"É possível que daqui a dois anos já possamos jantar num restaurante no terraço da antiga sede do Banco Nacional Ultramarino, na Baixa", disse ele ao jornal "Público", em 9.05.2009.
António Costa no nosso terraço


Mas nós estávamos ali para trabalhar e pouco nos apercebíamos das potencialidades restauracionais do espaço.
Mas o cheiro lá andava e um dia combinámos que todos traziamos o farnel de casa e íamos almoçar ao castelo de S. Jorge.
E lá fomos, com o chefe Mósca à frente.
Já não me lembro do que é que eu, solteiro e a viver sozinho, terei arranjado para levar. Ainda não havia pizzas nem hamburgers, talvez tenha levado alguns bolinhos de bacalhau comprados ad hoc.
Então vejam a maltosa.

A caminho... com o carrego...

Santos Silva, Luísa (Olá Luisinha, que é feito da menina?) e Sr. Mósca com o copo na mão...

Vamos comendo...


Da esquerda para a direita: Rito Pereira, Luísa, Dr. Daniel Costa, Odete, Nuno Bermudes, Miné (mulher do Bermudes; não trabalhava no nosso serviço mas ela é que fez o farnel do Bermudes...), Paixão, Oliveira Martins, Moreira, Sr. Elias, Oliveira e Sr. Mósca

O João Manuel Guerreiro Marçalo, terceiro da esquerda também lá estava. O Sr. Elias Rodrigues e Silva, primeiro à esquerda é o que está melhor na foto.
O sr. Elias morreu há vários anos, depois de ter ainda colaborado comigo no escritório, quando se reformou do BNU. Paz à sua alma. Era um homem às antigas, com cultura e saber estar. Quando fui ao enterro dele, conheci finalmente os seus filho e neto, que eram os seus motivos de vida.
O Nuno Bermudes também já faleceu, mas eu vou voltar, noutro dia, ao Bermudes, escritor e a outros colegas da foto.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

RECORDAÇÕES do BNU



Leonel de Pina Lobão, nasceu no Bairro de Gumirães, actualmente da freguesia de Santa Maria, em Viseu, no dia 28.07.1947 (signo Leão, mas benfiquista). Está à espera de ganhar tudo este ano, incluindo a taça europeia.
Entrou no BNU em Gouveia em Agosto de 1973, passou por Santiago do Cacém, Sines, Rua Augusta (Departamento de Estrangeiro - Emigração) e 5 de Outubro (Departamento Internacional - Financiamentos Externos). Reformou-se em 1 de Janeiro de 2003, já na Caixa Geral de Depósitos.
É um grande entusiasta do nosso banco. Tem recordações do BNU de todos os locais por onde passou e promete trazer-nos aqui muitas das suas lembranças.



Uma que ele guarda com muita estima é uma garrafa de vinho do Porto de 1851 produzido por F. Chamisso Filho & Silva, que comprou no dia 8.06.95 na Garrafeira Mercearia Nacional na Rua de Santa Justa, nº 18 em Lisboa


Também faz parte das suas recordações a respectiva factura.


Naquele dia, o Lobão foi, com o colega Fernando Leyva, à mercearia e descobriu lá a garrafa. Chamou-lhe a atenção o rótulo, com o "Chamisso" que aludia ao fundador do BNU. O merceeiro informou de que era peça única. O Lobão não hesitou um segundo e comprou-a de imediato.
Descobriu um documento da Biblioteca Nacional que identifica a firma "F. Chamisso Filho & Silva" como agente do Banco Nacional Ultramarino no Porto e que refere que os sócios dessa firma são os Chamisso, ligados ao BNU e o Sr. Carlos Silva, negociante muito respeitável, e muito respeitado, no Porto. Refere ainda o documento que à data não era obrigatório o registo das sociedades para terem existência legal e que a firma "F. Chamisso Filho & Silva" foi constituida por escritura pública no Porto, não teve registo comercial mas tinha actividade legal. Pela garrafa sabemos que a firma produziu vinho do Porto, pelo menos em 1851, que sabemos ter sido um ano de vintage.
O BNU foi fundado em 1864 por um dos Chamiços (=Chamissos) e ficamos a saber que em 1880 constava como agentes do BNU no Porto, a tal sociedade F. Chamisso Filho & Silva


A garrafa de vinho do Porto , na posse do amigo Lobão, é uma rara preciosidade, das que aparecem de vez em quando em leilões internacionais.



Vem referida uma garrafa destas no encontro promovido pela Vinotheque Nobilis, da Suiça com a classificação de quatro estrelas num máximo de cinco e com a seguinte anotação:
PORTO F. CHAMISSO FILHO & SILVA
"VELHO PARTICULAR" 1851 (****)
Couleur or brun assez clair, un peu trouble.
Au nez: style étonnant de très vieux madeira à l'acidité volatile extrême.
Cette acidité intensifie tous les arômes et donne beaucoup de vigueur à la constitution massive de ce Porto "vieux".
Très très riche au niveau de l'alcool.
Le sucre équilibre fort heureusement l'ensemble des composantes.
Grand vin qui fait plus penser à du Madeira qu'à du Porto.

Encontro enológico na Vinotheque Nobilis, em Geneve promovido pelos coleccionadores, Jean-Luc Barré e Pierre Chevrier, que apresentaram a garrafa do Chamisso