sexta-feira, 5 de março de 2010
FRANCISCO FRANÇA
Adivinhem quem é…
Precisamente!
Francisco Manuel Monteiro França. Reformou-se há vinte e sete anos. Agora com 81 anos, está com boa saúde e com tudo a funcionar na perfeição. Lembra-se de tudo e continua a discorrer e raciocinar melhor do que muitos mais jovens. Vive na sua casa da Aroeira, mete-se no comboio e vem até Lisboa quando lhe apetece ou quando precisa. Recebe a visita dos filhos (3) e dos netos (2) e come e bebe como quando era chefe nas Letras.
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Continua a encontrar-se com o Lindinho, o Borrega e outros que estiveram com ele nas Letras. Ao Borrega, cujo nome completo é Sousa da Costa Borrega, natural de Quadrazais, concelho de Sabugal, o Sr. França chamava-lhe Carlinhos, "porque não tinha outro nome próprio". Ele aceitava bem.
O Borrega era uma das testemunhas "oficiais" do Banco. Quando eu fui para o contencioso, estava em curso uma acção que passou para mim. Referia-se a uma letra cujo sacador não me lembro quem era e cujo aceitante era um tal Filipe Vacondeus. Na altura, as petições e requerimentos para o tribunal eram feitos na máquina de escrever, onde, de uma só vez, se faziam, com o papel químico, todas as cópias a entrar no tribunal e mais uma que ficava no Banco. O papel químico utilizado ia desgastando o seu poder de cópia e às vezes a cópia que ficava para o Banco era de dificil leitura. Mas, enfim, com a visão da juventude e com um pouco de interesse do trabalhador, lá se ía vendo. O tal Filipe Vacondeus não se conseguiu citar para a acção e tivémos que fazer o julgamento em que o Banco teria de provar que tinha emprestado aquele dinheiro e que nenhum dos intervenientes, nomeadamente aquele Filipe, que as testemunhas conheciam, não tinham pago a letra. À hora, lá estavam as testemunhas "oficiais" das letras da sede. Entretanto o Juiz, antes de começar a audiência, perguntou-me se este Filipe, não seria FILIPA. É que o sacador estava ligado à restauração e a Filipa Vacondeus era muito conhecida da televisão pelos programas de culinária. Pela minha cópia, não se distinguia se era Filipe ou Filipa. Saí cá fora a perguntar às testemunhas. Ninguém sabia. Pedi então ao Juiz para adiar o julgamento até eu poder esclarecer o assunto, pois vi logo que o engano era evidente e que não se tinha conseguido citar o Filipe, porque ele não existia. Enfim, coisas que acontecem a quem, como o banco, tinha de arriscar, na atribuição do crédito.
Nos corredores do Palácio da Justiça de Lisboa
Voltamos ao Sr. França. Contou que, antes do 25 de Abril, houve na sede um movimento de protesto que se traduzia na não assinatura do livro de ponto. Então o director António Fézas Vital (chamava-se António por ser afilhado de batismo do Salazar) chamou ao gabinete alguns responsáveis, incluindo o Sr. França, e disse-lhes que se, ao outro dia, o Ramos ("era um pequenino, alentejano"), o Acácio, a Isilda ("uma moça muito bonita que depois foi secretária da administração") (Olá Isilda, continua bonita?), o Racha (que depois saiu do Banco para se dedicar por inteiro ao PCP) e o Vieira, não assinassem o ponto, eram expulsos do Banco. O sr. França avisou um deles e no outro dia todos assinaram.
Depois do 25 de Abril, o Sr. França ainda teve um desgosto porque chamou a atenção a um responsável pela atribuição do crédito, dizendo-lhe que estavam a retardar o crédito a um cliente por ele ser do CDS. Quem o defendeu foi o Sr. Agostinho dos Santos e os outros acusadores, perante o Sr. Agostinho dos Santos, calaram-se.
O meu saudoso amigo, José Carlos Martins, homem bom, amigo do amigo, trabalhador, natural de Vale de Espinho, concelho do sabugal, trabalhou com o sr. França, nas Letras e depois foi gerente da Baixa da Banheira. Faleceu há poucos anos, muito novo, de cancro nos intestinos. Era um grande amigo do Sr. França, a quem chamava o Xico Fininho (agora o sr. França está um pouco mais gordo) e o Sr. França chamava-lhe o Zé Grande. Parece-me que ambas as alcunhas estavam bem aplicadas.
Bons tempos….
O Sr. França, natural de Castelo Branco, passou 36 anos e meio no BNU. Entrou em Vila Franca, passou por Sintra, Sertã, Rossio, Praça de Londres e finalmente “Letras” na sede da Rua Augusta.
Recorda-se de ter ido uma vez numa comissão a Ponta Delgada. Chegou lá e apresentou-se:
- Olhe, nós vimos de Portugal…
- Mas isto aqui também é Portugal, responde de imediato o colega de Ponta Delgada.
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Razão tinha o meu primo da Madeira que dizia que o sotaque dos ilhéus se devia ao facto de terem estado muitos anos completamente esquecidos do continente…
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Lembro-me que o Sr. França, quando ele ía á Direcção de Serviços era dos únicos que não se atemorizava com o Sr. Antunes (director). O Sr. França mantinha aquela voz pausada e calma e levava a sua água ao moinho. Um abraço do Araujo
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