
No dia 11 de Março de 1975, eu trabalhava nos câmbios, no rés-do-chão da sede. Era Presidente da República o General Costa Gomes e Primeiro Ministro o Brigadeiro Vasco Gonçalves.
O General Spínola tinha sido afastado do poder e falava-se de que ele e a sua maioria silenciosa andavam a preparar um golpe. E, de facto, nesse dia, lá veio então o golpe. Foi um “drôle” de golpe, como diriam os franceses.


Recordo as cenas de dois militares em directo na televisão, em frente ao RALIS, a discutir porque é que estavam a fazer o golpe e se não tinham recebido os panfletos, mas que panfletos, então e por uns panfletos vocês desatam aos tiros e não sei que mais.
Conclusão, à tarde, o Spínola e o seu grupo já estavam fugidos em Espanha. Diz-se que estavam refugiados na zona de Badajoz mas, em Vilar Formoso, ainda hoje se indica uma pensão, na estrada antes de chegar a Ciudad Rodrigo, onde terá dormido o Spínola, nesse dia. Sabe-se lá?
Mas o que interessa desse dia é que daí nasceu verdadeiramente o PREC, com a exigência de dar “um decisivo impulso à política antimonopolista e antilatifundista” que começou de imediato a ser proclamada através de manifestações e notas políticas.

Banca através do DL 132-A/75 de 14.
Seguros DL 135-A/75 de 15.03.
Em 16 de Abril, empresas petrolíferas(DL 205-A/75), Caminhos de Ferro Portugueses (DL 205-B/75), a Companhia Nacional de Navegação (DL 205-C/75), a Companhia Portuguesa de Transportes Marítimos (DL 205-D/75), a TAP (DL 205-E/75), a Siderurgia Nacional (DL 205-F/75) e as empresas de energia eléctrica (DL 205-G/75).
Em 9 e 13 de Maio, cimenteiras (DL 221-A/75), de celulose (DL 221-B/75) e tabacos (DL 228-A/75).
Em 5 de Junho, Metropolitano de Lisboa (DL 280-A/75), a Empresa Geral de Transportes (DL 280-B/75) e 54 empresas de camionagem (DL 280-C/75).
Em 3 de Julho, Carris (DL 346/75).
A 14, 21, e 22 de Agosto, Pirites Alentejanas e Sociedade Mineira de Santiago (DL 434/75), a Companhia Nacional de Petroquímica (DL 453/75) e a Sociedade Portuguesa de Petroquímica, o Amoníaco Português e os Nitratos de Portugal (DL 457/75).
Em 1 e 25 de Setembro, Estaleiros Navais de Setúbal e os Estaleiros Navais de Viana do Castelo (DL 487/75) e a CUF (DL 532/75).
Em 2 de Outubro, (DL 561/75) Sociedade de Gestão e Financiamento e a Sociedade Geral de Comércio, Indústria e Transportes (do grupo CUF).
Em 2 de Dezembro, estações de rádio (DL 674-C/75) e a RTP (DL 674-D/75).
Em 17 de Dezembro,Sociedade de Fainas do Mar e Rio (DL 701-C/75), transportes fluviais do Tejo (DL 701-D/75) e a Sociedade de Cargas e Descargas Marítimas (DL 701-E/75). Em 20 de Julho, (DL 572/76) pesca.
Em 29 de Julho de 1976, (DL 639/76) jornais.
O Banco Nacional Ultramarino já tinha sido nacionalizado pelo Decreto-Lei nº. 451/74 de 13 de Setembro, que nacionalizou também o Banco de Portugal e o Banco de Angola, ou seja os bancos emissores.
Essa nacionalização não tinha representado qualquer significado em termos revolucionários, uma vez que estes bancos já eram maioritariamente do Estado.
Recordo-me de um dia, na cantina da cooperativa, no 1º andar da Rua da Prata, eu estar na mesa com o Sebastião Fagundes, o Narciso e o Tavares a falar no papel do BNU para a economia do sistema.
O Fagundes dizia que o nosso Banco era o sustentáculo dos empregos, e que estava a pagar a frota da TAP, a Ponte sobre o Tejo, compromissos que vinham de trás e que, com os meios do banco, não era difícil assegurar.
E quando já eu trabalhava no Secretariado Operacional, no final dos anos 70, tínhamos um dossier das responsabilidades relativas à reforma agrária que o BNU tinha financiado e que teve de esquecer e que perfazia milhões largos.
Bom…
Voltando ao 11 de Março.
O nosso banco já era do estado.
Mas houve quem, talvez querendo entrar na festa, arranjasse cartazes a substituir o nome para "BANCO DO POVO",

Em todo o caso, o dia 11 de Março ficou indelevelmente ligado à nacionalização da banca portuguesa. Ainda eu estive pelo menos dois anos nos câmbios e nos balcões do rés-do-chão da sede eram colocados, nesse dia, vasos com flores comemorativas desse evento.
Actualmente, o 11 de Março é, a nível europeu e também nosso,

Um minuto, uma hora, um dia, um ano, um século de silêncio não chegará para desagravar.
Excelente artigo. Um abraço
ResponderEliminarAraujo
Aqui está um artigo bem escrito, bem documentado e com isenção.
ResponderEliminarGente saiba escrever em português já vai sendo uma raridade.
Obrigado e um abraço
Boa tarde,
ResponderEliminarMuito bom artigo e bem documentado.
Seria possível saber a autoria da primeira imagem (Banco Nacional Ultramarino Banco do Povo) e qual a fonte, nomeadamente jornal, revista, etc.?
Obrigada pela atenção.