terça-feira, 20 de abril de 2010
NUNO BERMUDES
Tenho estas fotos do Nuno Bermudes que não são dignas dele, mas pronto. Quem o conheceu pode ver o seu geito de estar e andar confirmado nestas fotos.
Nuno Fernandes Santana Mesquita Adães Bermudes, nasceu em Moçambique no dia 30 de Dezembro de 1921, veio para Lisboa, onde fez os seus estudos, voltou para Moçambique em 1947 e voltou para Lisboa em 1975, e aqui faleceu em 1997.
Era filho de Félix Bermudes, escritor e desportista, fundador do Sport Lisboa e Benfica, várias vezes presidente do clube e considerado um dos seus símbolos e um dos melhores presidentes de sempre do SLB, que financiou por várias vezes.
Félix Bermudes foi o autor do primeiro hino do Benfica, "Avante, avante p'lo Benfica", (clicar para ouvir a música) que o Salazar proibiu por se confundir com o "Avante" do Partido Comunista.
Foi também o Félix Bermudes o autor do argumento do filme "O Leão da Estrela", interpretado, pelo António Silva e pelo Artur Agostinho. Eram alturas dos cinco violinos sportinguistas e concerteza que o Félix Bermudes, grande desportista, também seria um admirador dos bons atletas do Sporting.
Pois o Nuno Bermudes trabalhou comigo no Secretariado Operacional.
O Dr. Casanova, sabendo das suas qualidades literárias, deu-lhe o cargo de rever o português das cartas e circulares que nós fazíamos para as agências e para outros bancos. Penso que nunca o BNU terá tido tão bons escritos...
Nos intervalos das suas revisões de texto, o Nuno, sempre com um copo de whisky na gaveta semi-aberta, que ia bebericando, fazia as suas poesias e muitas vezes o vi a contar, com os dedos, as sílabas dos seus poemas.
O cantor Luís Cília fez uma canção com uma letra do Nuno. Lembro-me perfeitamente de o Nuno me ter dito que o Luís Cília, o poeta da revolução de Abril, o tinha contactado para poder usar a sua poesia.
A poesia era a seguinte:
Saborear-te a boca devagar,
como a um fruto raro e sumarento,
e cada rijo seio te apertar,
num misto de prazer e sofrimento.
Depois, beijar-te o ventre e deslizar
por ele, num tão macio movimento
que de ave mais parecesse um adejar
do que um afago húmido e lento.
E só então, te possuir, amor,
teu corpo penetrando ferozmente,
nos braços te apertando com ardor,
até, no estrebuchar do frenesi,
imaginares que, em fogo, uma torrente
de lava, em ondas, desaguara em ti.
Nuno Bermudes é considerado um dos melhores escritores, poetas e críticos moçambicanos.
O seu primeiro livro de poemas "O Poeta e o Tempo" foi publicado, em Lourenço Marques e foi galardoado com o prémio Rui de Noronha.
Em 1959, aparece a colectânea de contos, "Gandana", que obtem o prémio António Enes, tendo sido seleccionado o conto "Gandana", em 1980 para figurar na "Frankfurt Book Fare" de Frankfurt.
Foi redactor chefe do jornal "Notícias" de Lourenço Marques, no qual criou a página "Moçambique 58" na qual colaboraram, a seu convite, alguns dos nomes mais representativos da literatura e arte moçambicana.
Devido à intervenção do Nuno Bermudes o poeta José Craveirinha foi integrado como repórter do jornal, mas a sua enérgica acção em defesa do José Craveirinha, perseguido pela PIDE, e de outros colegas de redação, incompatibilizou-o com a administração do jornal e saiu.
Nuno Bermudes teve o seu percurso literário marcado pela poesia, por Moçambique e pelo Brasil. A sua primeira obra, O Poeta e o Tempo, foi publicada em 1951. No seu percurso poético seguiram-se, entre outras, Exílio Voluntário (1966), As Paisagens Perdidas e Outros Poemas (1980) e Brasil Redescoberto: Poesia Atlântica (1983).
Em prosa, publicou, entre outras obras, Gandana e Outros Contos (1959), Moisés (1981) Eu, Caçador, e Tu, Impala e Outras Histórias de Homens e Bichos (1983), Casa da Margem Esquerda e Outras Histórias (1985).
Tenho comigo dois livros, com dedicatória do Nuno, um deles o romance, "Moisés" com capa da sua amiga Maluda.
O outro livro que eu tenho do Bermudes é o livro de contos "Casa da Margem esquerda e outras histórias", com capa do amigo José Pádua.
O Pádua visitava muito o Bermudes no BNU e fez-nos vários desenhos como os que já aqui citamos com a poesia do Nuno "Natal com D. Quixote"
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Este blog está a ser um caso sério! Tenho-o nos "favoritos" e abro-o duas e três vezes por dia à espera de mais e mais. È uma fonte de cultura e um reencontro de colegas e amigos. Bem haja meu amigo!
ResponderEliminarAraujo
Caro Araújo
ResponderEliminarConcordo inteiramente contigo e deixo uma sugestão aos amigos deste blog:
Que tal juntarmo-nos num almoço de convívio, lá para os finais de Maio?
Um grande abraço para todos
Joaquim Matos
A canção do Luis Cilis Com poema Nuno Bermudes faz parte do disco Marginal
ResponderEliminarpode encontrá-la em excerto no site do luis cilia :
http://www.luiscilia.com/index_ficheiros/crescendo.htm
Caros Amigos,
ResponderEliminarChamo-me Faneca Bermudes (Mwana e o meu nome de artista)e sou um dos filhos do Nuno Bermudes. E com muita alegria e honra que encontrei este blog do BNU onde voces se recordam do meu pai e sua obra literaria Mocambicana. Obrigado e bem hajam!
Tive o grato prazer de trabalhar com o Nuno Bermudes no Secretariado Operacional. Relembro, por isso, aqui, um trabalho seu que distribuiu fotocopiado por todos os colegas, intitulado FEIRA OPERACIONAL (1977)e no qual nos caricaturava em verso, com desenhos do Pádua- O5/09/013 Maia Pereira
ResponderEliminarCurioso! Ao arrumar os meus livros decobri " Moisés ", que apesar de o ter há dezenas de anos, só hoje li. Desde as 6 horas até agora... Fui depois saber quem era este autor, para além do que li na badana do livro, e encontrei este blog.
ResponderEliminarPerpassa no romance que li a marca de poeta, e sem surpresa confirmei que o autor, afinal é, era, isso : poeta!
Gostei da minha madrugada de leitura!( só o não se ter tempo para ler tudo justifica o meu desconhecimento deste autor.)