sexta-feira, 4 de junho de 2010

BNU-Timor Leste

Caros Amigos,
Conforme prometido, vou partilhar uma experiência relacionada com o BNU/Timor que na minha opinião, é um bom exemplo de como a vontade colectiva é importantíssima para resolver situações difíceis, mesmo as que parecem impossíveis de ultrapassar.
A situação ocorreu durante o processo de independência de Timor Leste, que como devem estar lembrados, provocou uma onda de entusiasmo e de solidariedade por parte do Povo Português.
Nesse processo, o BNU teve um papel importante, designadamente por parte dos nossos colegas que enfrentando grandes dificuldades operacionais e logísticas, conseguiram reconstruir em tempo recorde as instalações destruídas, possibilitando assim o rápido reinício das actividade do Banco.
No final do dia 15 de Novembro de 1999, sendo na altura responsável pela Tesouraria Geral do BNU, fui contactado pelo colega Tubal Gonçalves, informando-me da necessidade de num espaço de 24 horas, enviar uma quantidade muito grande de notas e moedas.
Esta operação era de elevado interesse nacional, de modo a forçar a adopção do Escudo como moeda oficial de Timor durante o período de transição, em detrimento do dólar americano e do australiano.
A urgência do envio do dinheiro era justificada pela necessidade de serem pagos rapidamente os ordenados dos funcionários públicos que, sendo pagos em Escudos, facilitaria a entrada em circulação dessa moeda.
Em condições normais, a movimentação de tão elevado montante num tão curto espaço de tempo, seria impossível de concretizar, mas há medida que fui estabelecendo contactos com os responsáveis das várias entidades envolvidas: Banco de Portugal; Alfândega; Despachantes Oficiais e Securitas e, ao explicar os objectivos da operação, todos quiseram contribuir para o seu êxito.
Ao início da tarde do dia 16, o BP entregou à Securitas ( que já tinha fretado um camião para o transporte) as notas e moedas e os funcionários daquela Empresa disponibilizaram-se para trabalhar gratuitamente e fora do seu horário normal, para embalarem os milhares de notas e as 6 toneladas de moedas.
Cerca das 23,30 o camião saiu das instalações da Securitas em Linda-a-Velha e conseguiu chegar ao Aeroporto Militar de Figo Maduro a tempo do dinheiro ser embarcado num avião Antonov, fretado pelo Estado Português.
Após várias peripécias, todo o dinheiro chegou a Timor e no dia 30 o BNU reabriu as suas portas, iniciando os pagamentos aos funcionários públicos.
Entretanto, a realidade evoluiu noutro sentido, o Escudo não vingou como moeda oficial, e no início de 2002 as notas e moedas regressaram a Portugal quase na totalidade, o que implicou nova e complicada operação logística.
Será que algum colega que estava em Timor nesse período, pode dar o testemunho de como as coisas lá se passaram, nomeadamente das dificuldades em fazer chegar os caixotes com as 6 toneladas de moedas do cais até às instalações do BNU, bem como das razões porque as autoridades de Timor Leste decidiram não adoptar o Escudos como a sua moeda oficial?
Um grande abraço
Joaquim Matos

1 comentário:

  1. Caro Joaquim
    Pessoalmente posso explicar melhor o porquê de terem adoptado o USD, no entanto e para bom entendedor a facilidade de "levar" e "trazer", bem como o facto de a maior parte da "elite" ter "negócios" na Austrália e Indonésia, facilita as "transferências"....
    Abraço
    M

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