O nosso colega João Manuel Guerreiro Marçalo entrou no BNU em Vila Peri - Moçambique, no dia 5 de Setembro de 1974. Em 1 de Agosto de 2005, a trabalhar na sede da CGD, Av. João XXI, reformou-se. Quem o conhece sabe que não pode haver melhor em dedicação ao trabalho, competência e em amizade com o parceiro.
Em 2000 fez uma incursão a Timor ao serviço do Banco.
Aqui nos deixa a descrição dessa aventura. Um texto extraordinário que vale a pena ler do princípio ao fim.
O contacto
Recebi a notícia de que precisavam da minha ajuda em Timor
no dia 10 de Fevereiro.
Foi o próprio Dr. Daniel Mendonça que me veio chamar à minha
secretária, estava eu a fazer, em conjunto com o Adélio Ferreira, acetatos para
uma acção de formação de crédito à habitação.
No dia seguinte avisei o Dr. Tubal que estava na disposição
de ir, que em casa a Wanda e os meus filhos "me deixariam abalar….".
O acompanhamento médico
Sucedeu-se então o contacto com a clínica onde sou
acompanhado -a minha médica estava para o Canadá- e depois de obter luz verde e
de me serem receitados medicamentos que preventivamente me poderiam fazer falta
-antibióticos, antidiarreicos, etc.-, fui apanhar as vacinas.
A partida
Com improviso daqui -que o tempo era curto- mais ajuste dali
e, depois de duas datas de abalada adiadas, embarquei a 23 de Fevereiro com
rumo a Timor, tendo por companhia o Comendador Rui Nabeiro, o genro o Cavaleiro
Joaquim Bastinhas e mais quatro elementos do seu "staff" de apoio.
Logo no dia da partida tive um percalço. Felizmente que não
passou disso.
Tínhamos combinado -eu, a Wanda e o Sérgio- passar pela
faculdade do Renato, onde ele se encontrava a discutir uma nota, quando me
faltaram os travões, ou melhor, o carro passou a travar muito em baixo. A
condução até ao Banco, onde tinha um caixote de papelão para Timor, e depois
até ao aeroporto teve que ser feita com o maior cuidado, para evitar acidentes.
Na praça do aeroporto chamei a desempanagem móvel do ACP que
me disse não haver nada a fazer no local e que uma condução calma até Setúbal
com certeza não iria trazer problemas à Wanda e aos rapazes.
A viagem
A viagem até Timor, com passagem por Singapura e Darwin não
teve história de maior.
A viagem de Londres a Singapura demora doze horas.
Ceia-se -janta-se entre Lisboa e Londres-, dorme-se, vê-se
televisão, ouve-se música, toma-se o pequeno almoço, almoça-se e chega-se ao
destino ao fim do dia seguinte já que viajamos contra o sol.
Vale a pena referir o tamanho do aeroporto de Singapura, a quantidade
de raças diferentes -trajando de formas tão diversas-, a eficiência do pessoal
do aeroporto, a boa sinalização interna, mas também o cuidado que é preciso ter
com a bagagem de mão. Julgo que toda a gente tem presente o problema da droga….
Já noite fechada segui de Singapura para Darwin -são mais
quatro horas e pouco.
Jantei durante esta viagem mas não dormi até chegar a Darwin
por volta das quatro horas de manhã do terceiro dia de viagem, isto é do dia 25
de Fevereiro.
De referir que de Darwin para Portugal são nove horas e meia
mais cedo, o que quer dizer que quando telefonei para a Wanda -e em Portugal
eram horas de jantar do dia 24- ela nem queria acreditar que eu já estava na
Austrália.
A Austrália
A passagem por Darwin é complicada e estranha,
comparativamente com a passagem por Londres e Singapura.
Enquanto que nestes dois aeroportos somos considerados em
trânsito, no de Darwin isso não acontece.
Temos que forçosamente entrar na Austrália, o que quer dizer
que temos que preencher formulários, passar na alfândega com a consequente
vistoria de bagagens, farejadas por cães e "vasculhadas" por agentes
e voltar a sair, onde não há vistoria de bagagens mas há, de novo,
preenchimento de formulários.
Esta passagem pela Austrália, tendo presente o dia inteiro
que lá demorei no regresso a Portugal deixou-me confuso e desapontado.
Deu-me a sensação de que os Australianos são tremendamente
racistas, que cinicamente suportam os aborígenes a fazer o que lhes dá nas
ganas.
Fiquei surpreendido com as restrições que são impostas aos
viajantes no que respeita aos artigos proibidos de entrar no país, tais como:
sementes, feijões, peixe, carne, conchas, plantas -mesmo secas-, artigos de
palha, corais, especiarias, terra … eu sei lá que mais.
Como apontamento curioso vi, dois médicos portugueses que
iam para Timor, aborrecidíssimos porque lhes tinham sido tirados uns chouriços
que levavam de cá. Eu próprio, quando regressei, fiquei espantado quando um
agente foi "catar" com uma pinça umas sementes encravadas na sola de
uns sapatos de ténis que eu tinha usado em Timor. O exagerado cuidado vai ao
ponto -pelo menos no turbo-hélice que me trouxe de regresso a Darwin- de
pulverizar com "spray" o corredor do avião.
A viagem (cont.)
Bom, retomando o fio à meada e voltando à ida para Timor.
Abalei de Darwin por volta das dez horas da manhã, do dia 25
de Fevereiro.
O "grupo" do Comendador Nabeiro tinha ido mais
cedo uns dez minutos.
No avião onde viajei tinha como companheiros do lado um
casal de Timorenses, pessoas na casa dos sessenta anos. Ainda no ar e já à
vista de Dili o homem desatou a chorar de alegria por estar de volta. Acabámos
por conversar, já na pista. Era cerca do meio dia. O meu companheiro de viagem
Timorense ajoelhou-se e beijou o chão e foi-me contando que de oito filhos lhe
restavam apenas quatro. Os outros tinham sido mortos. Que ele tinha fugido em
1992 de Sipinang -onde estivera com o Presidente Xanana- para Portugal.
Chegada a Timor
No momento, por força do calor intenso que fazia, senti uma forte
pressão no peito e julguei que ia desfalecer.
Como o edifício da alfândega estava a arder ficámos por
momentos na pista, ao sol, mas de lá nos retiraram para a sombra de uma árvore
e por fim pudemos entrar no edifício.
Ainda encontrei todos os elementos do Grupo do Comendador.
Aliás as malas deles acabaram por ir quase todas no meu avião que levava menos
de metade dos passageiros.
À nossa espera estavam o Dr. Tubal, o Vasco, o Brito e o
Eng. João Carrascalão.
Carregámos as malas para os carros do Banco e dali foi um
corre-corre para ir à Missão Portuguesa dar uma arrumadela na roupa -já que
levei cabides, senão ficava tudo dentro das malas-, encarar com as casas de
banho -que na opinião dos que já lá estavam agora eram bem melhores, sendo para
mim as do parque do CCL em Melides ou, mesmo, qualquer uma das dos vários
quartéis onde fiz tropa, comparativamente, de cinquenta e cinco estrelas.
Os Timorenses
Os traços fisionómicos dos timorenses, daquilo que vi, podem
dividir-se em três tipos distintos.
Um deles, compreende indivíduos que se assemelham aos
indianos quer na cor da pele, quer no tipo de cabelo -que pode apresentar ondas
largas-, quer no formato e cor dos olhos, embora de nariz mais largo.
Outro, é composto por indivíduos aparentados com malaios,
mais claros na cor da pele, com os olhos amendoados -apresentando por vezes
tonalidades de castanho mais claras- e de cabelo liso.
O último grupo apresenta traços que fazem lembrar os
aborígenes australianos, porque são muito mais escuros do que qualquer um dos
outros tipos, têm cabelo encaracolado, apresentam lábios mais grossos, nariz
mais largo e maçãs do rosto e sobrolhos salientes.
Na estatura todos são parecidos. Pode-se dizer que se trata
de um povo composto por gente magra e de estatura que ronda 1,60m.
São pessoas simpáticas, recebem-nos sempre a sorrir e usam
nomes que nos são comuns.
Andam, normalmente, sempre calçados. Parece que são limpos,
já que o povo não anda sujo, e ao Domingo vestem-se com a melhor roupa que têm.
São bastante religiosos -ao Domingo de manhã bem cedo
movimenta-se uma multidão pelas ruas a caminho da missa; com alguma frequência
encontramos, na berma das estradas, nichos com Santos ou imagens de Nossa
Senhora; existem vários organismos religiosos.
A Missão Portuguesa
Vale a pena demorar um pouco sobre as condições de limpeza
das casas de banho, da cozinha, das casernas da Missão Portuguesa, etc.,
considerando:
que julgo que todos nós portugueses estamos a contribuir com
milhões para ajudar Timor;
que há tanta gente desempregada em Timor;
que os ordenados são tão baixos -para se comparar um
empregado bancário ganha vinte cinco contos- e são tão más as condições
encontradas na missão.
A caserna
Posso dizer que na caserna onde dormi -ou não consegui
dormir- as melhores camas que lá estavam foram compradas pelo Banco, na
Austrália. Os outros quatro companheiros de caserna tinham agora uma camas
muito parecidas com as nossas representando isso uma melhoria considerável pois
as camas anteriores eram velhas, desconjuntadas… aquilo a que se chama de ninho
de cão.
Na caserna, a poeira nos parapeitos das janela era tão
espessa que parecia feltro.
Havia teias de aranha de há meses com poeira acumulada, moscas
e outros bichinhos, envolvidos em novelos para as futuras refeições das
"inquilinas".
As cadeiras, que em conjunto com as malas de viagem eram os
"roupeiros" do pessoal, tinham sarro agarrado resultado da mistura da
poeira com a humidade. Tive que lavar as costas de uma destas cadeiras de forma
a poder pendurar nela uma toalha de praia.
O chão nunca foi lavado, nem sequer varrido durante a quase
semana que lá estive.
A caserna não era arejada.
Embora tivesse três janelas de dimensões enormes, em que dois
terços eram persianas de vidro e o último terço janelas de rede, não eram
arejadas. Ninguém abria as ditas persianas. Além disso duas das janelas, por
razões que desconheço, estavam tapadas com uma tela plástica brilhante, que
fazia lembrar alumínio.
Julgo que para compensar, se mantinham a funcionar três
ventoinhas durante as vinte e quatro horas do dia.
No entanto, um cheiro característico, assim meio adocicado
meio a corpo suado, predominava na caserna e era tão forte que a minha roupa
não usada, mantida dentro da mala, teve toda que ser lavada quando cheguei a
casa.
A cozinha
A cozinha, onde tirando o jantar do primeiro dia, só tomei
pequeno almoço -pão seco e café com leite- era toda ela um nojo.
As toalhas plásticas brancas sobre as mesas estavam continuamente
ou húmidas ou engorduradas -se calhar estavam as duas coisas.
Não era possível, pelo menos para mim apoiar o pão que iria
comer sobre a toalha. Por isso, ou apoiava sobre o copo de café com leite ou
sobre um guardanapo de papel, que lá iam aparecendo. Os copos eram de plástico,
não descartáveis e, para grande infelicidade minha, foscos e rugosos. Estavam
sempre enfiados uns nos outros, húmidos e com o aspecto de estarem mal lavados.
O certo é que eu antes de os usar gastava um dos ditos guardanapos de papel
para os secar. Gastava nos guardanapos mas não gastava muito na comida: pão
seco e galão.
Os que punham manteiga , queijo e carnes frias no pão
faziam-no todos usando a mesma faca para a manteiga, o mesmo garfo -ou o
próprio dedo- para tirar o queijo e as carnes frias, assim como a mesma colher
para dissolverem o açúcar no "café" da manhã. É verdade! A mesma
colher era usada por todos para mexer a bebida da manhã, quer fosse leite quer
café com leite….usava-se acolher e colocava-se na borda do prato das carnes
frias -ou do queijo- pronta para o parceiro seguinte se servir dela.
Para terminar, quando estive no hospital Dr. XXXXXXXXX, a
Drª. Iva -uma das médicas que lá presta serviço e que tinha chegado a Timor
dois dias antes- comentou comigo que não iria aguentar a falta de higiene na
cozinha da Missão e que por ela tudo aquilo teria de mudar. Tomara que tenha
conseguido.
As casas de banho
As nossas casas de banho, que agora já tinham lâmpadas e
chuveiros e por isso motivo de regozijo dos que já lá estavam, não destoavam,
em termos de limpeza do resto.
Existiam baldes para recolha de papel higiénico usado e
piaçabas para a sanita, embora nenhum autoclismo funcionasse.
Do mal o menos, tínhamos uns baldes -por sinal todos velhos
e sem pega- com os quais despejávamos água nas sanitas -quem despejava, porque
como se sabe, à boa maneira portuguesa, "poupa-se" água nos urinóis
públicos que funcionam bem… portanto podem calcular como seria lá, com o
trabalho acrescido de ter de encher e vazar os baldes…
Só que uma desgraça nunca vem só. Não sei porque razão as
sanitas ficavam sempre meias de água. Quando se despejava o dito balde de água,
parecia que a sanita se esvaziava, mas depois havia um refluxo de líquido e a
sanita ficava meia. Tinha até um "traço" de sarro marcando o nível
habitual.
Peço antecipadamente desculpa, mas sem pretender baixar o
nível da descrição, digo que quem alí cagava ía salpicando as pernas e as
nádegas.
Por isso, habituado a determinadas rotinas matinais que
funcionaram mesmo no avião durante a viagem, tive três dias para arranjar
"coragem"… e se bem me "espremia" todas as manhãs.
Durante esta semana que saudades tive do cheiro a lixívia,
para não falar dos vários detergentes que todos conhecemos e que estão à venda
na Austrália.
Julgo, sinceramente, que os responsáveis da Missão poderiam,
no capítulo da limpeza, serem mais aplicados.
Há produtos de limpeza na Austrália, não falta mão de obra
em Timor, sendo certo que empregar gente também é missão humanitária e julgo
que há verba para pagar!
Depois, tudo o mais que se pode encontrar, na parte de
lavatórios, de um balneário mau ali se encontrava, tal como: uma tábua velha e
suja a fazer de prateleira, uns pedaços de espelho -já sem espelhado- a
fingirem sê-lo, muito bolor preto nas junções dos azulejos, sem que nos
pudéssemos socorrer de um esfregão que nos aliviasse matinalmente dos restos de
pasta de dentes e outros vestígios dos anteriores utentes.
Ouve um dia que já farto de tanta falta de limpeza fiz com
papel higiénico uma luva e andei a apanhar todas as velhas e abandonadas
giletes, escovas de dentes, embalagens de produtos de higiene tais como
shampoos, pastas de barba e dos dentes…
Em Dili (a comida)
Voltando à narrativa, depois de arrumar a roupa e de tomar
um duche, tudo a correr, abalei de cantil e chapéu numa mão e pente na outra,
para não perder tempo, e durante a viagem de carro até ao Banco lá me penteei.
Nesse dia na Missão o almoço era feijoada. Segundo o Piedade
as feijoadas da Missão não eram grande coisa. Por isso fomos almoçar ao Hotel
flutuante onde o Banco tem um posto de câmbios. O almoço foi bom. Já não me
recordo o que foi, mas foi bom.
O jantar desse dia foi na Missão. Arroz guisado com enchidos
vários.
Daí que sendo boa a alimentação no Hotel -paga, entre
1.300$00 e 1.800$00, mas completa, saudável, variada e à discrição-, feijoadas
e guisados na Missão, mas à "borla", nunca mais lá comi. Ou melhor,
só tomava o pequeno almoço.
Em Dili (o trabalho)
Nesse dia de tarde, às cabeçadas de sono, fui ouvindo,
conforme aguentei, o Dr. Tubal a fazer-nos -a mim e à minha "colega"
de trabalho a Eduarda (para quem não sabe, a Mulher do Dr. Tubal)- uma primeira
apresentação da linha de crédito com fundos provenientes da ajuda portuguesa a
Timor que o Banco Mundial criou e na qual o BNU vai ter o papel de
intermediador/ desintermediador, isto é, analisa, concede o crédito e recupera-o
para uma conta do futuro governo de Timor.
Como missão o BNU tinha que criar uma proposta/contrato de
crédito, fazer publicidade por vários canais -incluindo a igreja-, admitir
gente com preparação, fazer o controlo do crédito na fase de investimento até à
recuperação integral.
Só tive tempo para colaborar na proposta/contrato. Tudo o
mais não tive oportunidade de auxiliar…
Nesse dia, depois do jantar, o Dr. Tubal foi-me buscar à
Missão e estivemos em grupo a fazer um serãozito, com uma água tónica
"anti-mosquito", tendo-me deitado um pouco tarde, a conselho, para
acertar os sonos. Foi a noite mais bem dormida da minha curta estadia em Timor.
No dia seguinte, Sábado, levantei-me por volta das seis da manhã, tomei o
pequeno almoço às sete -já a suar e com a sensação de que o duche de há uma
hora atrás tinha sido tomado no dia anterior- e fomos trabalhar.
O condutor fui eu para me ir habituando à condução pela
esquerda.
O Banco, que funciona entre as 8 e as 12 e as 14 e as 18
horas (o posto de câmbios labora, toda a semana, das 18.30 às 20.30 horas) abre
ao Sábado de manhã.
Mesmo que não abrisse o meu trabalho não se prendia com a
actividade desenvolvida no Balcão. Como estávamos apertados de tempo
trabalhámos toda a manhã.
Em Dili (a ida à praia)
Nesse Sábado, almoçámos no Hotel e à tarde fomos para a
"Praia dos Portugueses", como lá lhe chamam.
Tive a oportunidade de experimentar uma água de mar quase à
temperatura do ar.
Em Moçambique já tinha tomado banho em praias com água tão
transparente -em Timor também é Oceano Índico- mas não tão quente.
Quando lá chegámos encontrámos o Brito e o Piedade que
estavam num grupo composto por um nosso companheiro de quarto -caserna-, de
nome Zé, da EDP, mais duas correspondentes -uma da Antena Um-, uma médica -por
casualidade prima do Dr. Tubal- já em fim de destacamento em Timor, um repórter
da SIC chamado Cancela e o seu operador de câmara e, ainda, um outro sujeito
ligado a comunicação social.
O Piedade e o Brito, como tinham que vir abrir a casa forte
porque o posto de câmbios abria às 18.30 horas, voltaram da praia mais cedo.
Os restantes, ficámos lá até à noitinha e gastámos o tempo
entre o banho, o jogo do vólei e o "experimenta coração" do Cancela
(o caso dos calções de banho).
Jantei no Hotel em companhia do Brito e do Piedade. O Dr.
Tubal e a Mulher jantaram com o "grupo" Nabeiro. O serão foi idêntico
ao do dia anterior e também como véspera deitei-me relativamente tarde e
levantei-me cedo porque às sete e meia da manhã de Domingo abalávamos, da porta
do Hotel, para Baucau. Esta noite também não foi bem dormida, pois as horas de
sono eram sempre poucas. Não dormi, em qualquer das duas primeiras, noites sete
horas. O pior foram as três noites seguintes que apenas dormi três ou quatro
horas em cada.
E depois sua-se toda a noite… e todo o dia…
Os livros portugueses
Para irmos a Baucau não podíamos abalar sem garantirmos o
almoço de Domingo pois poderia não haver comida em Baucau.
Por isso, no Sábado à noite fomos “desenrascar” umas rações
de combate aos Bombeiros.
A seu convite, visitámos o local onde estavam alojados -que
segundo me pareceu se tratava de uma construção dos tempos coloniais portugueses,
inicialmente usado para uma escola ou organismo público- o qual já tinham
melhorado com obras. Recordo-me que tinham quartos, sala de rádio e cozinha.
Fomos, então, buscar as rações de combate -das portuguesas
porque as estrangeiras não satisfazem o paladar de um “portuga”- que estavam
guardadas num armazém.
Nisto reparei que ali ao lado delas havia uma “carrada” -é
verdade, era mesmo a carga de um carro de mercadorias- de livros portugueses.
Estavam a monte. Uns dentro de caixas de papelão, meio fechadas
meio rasgadas, outros soltos, praticamente todos molhados porque naquela zona
do dito armazém chovia do telhado de tal forma que fazia poça no chão.
Aparentava que algum organismo português, “para mostrar
serviço”, os tinha despachado à pressa para Timor, sem se preocupar em
organizá-los por assuntos, e que “alguém” os tinha “atirado” para ali, para
aquele armazém dos bombeiros, como se os livros fossem um monte de problemas…
Ida a Baucau
No dia seguinte Domingo, dia 27 de Fevereiro, recorrendo a
um desenho feito à pressa, na noite anterior pelo Brito e pelo Piedade, vim
sozinho de carro da Missão para o Hotel.
Abalámos para Baucau em dois carros. Num ia o Sr. Rui
Nabeiro, o Dr. Tubal, a Eduarda e eu. Na outra viatura o "staff" do
Sr. Rui Nabeiro mais o Genro.
Parámos no caminho várias vezes a apreciar e a fotografar a
paisagem.
O terreno é, basicamente, vermelho, barrento, muito
montanhoso e ingreme logo a partir do mar, aparecendo, por vezes na linha da
costa, zonas planas -como aquela em que se situa Dili. Estas zonas planas
também surgem no interior e são normalmente cruzadas por rios -se é que se pode
chamar rios, já que só correm na época das chuvas. A vegetação é basicamente
composta por árvores de porte médio -é curioso que se vêm muitas árvores que
parecem eucaliptos anões-, por arbustos e capim, também de média altura.
Vimos como os camponeses preparam a terra para a plantação
do arroz -tem as plantas em alfobres e transplantam-nas para o local definitivo
que previamente preparam, fazendo passar nesses terrenos manadas de búfalos,
até que as áreas tenham o aspecto de "lavradas" pelos cascos dos
animais; vimos manadas inteiras a descansar enfiadas no lodo, praticamente só
com a cabeça de fora, protegendo-se, com a lama húmida, do calor e dos
mosquitos.
Parámos também no caminho para Baucau, para a beber água de
coco e para comer coco em leite apanhado por um Timorense que encontrámos numa
pequena aldeola à beira da estrada. Como paga demos-lhe, em rupias o
equivalente a quatrocentos escudos e o homem fez-nos uma vénia de chegar com a
cabeça ao chão acompanhada de um largo sorriso.
Chegamos a Baucau à hora do almoço.
Fomos procurar por D. Basílio do Nascimento que não estava
disponível.
Dei de caras com um grupo de professores de Setúbal, da E.S.E.,
com quem conversámos uns instantes, visitámos as futuras instalações do BNU e
fomos almoçar ao único (?) restaurante da terra. Portanto, não foram
necessárias as rações de combate.
Como nota, recordo-me que num alpendre havia uma teia de
aranha -se calhar de estimação ou muito eficaz a apanhar mosquitos- com uma
área inimaginável, tendo no centro uma aranha de dimensões bem consideráveis.
Toda a gente do grupo ficou espantada pelo que foi filmada e fotografada.
Esperámos bastante pela confecção do almoço.
Enquanto esperávamos surge, no restaurante, outro
Setubalense que eu conheço do meu bairro. Um elemento da equipa Médicos dos
Mundo, fixada em Lospalos, que naquele Domingo tinha ido a Baucau. Grande
inflação de Setubalenses….
Por fim, almoçámos -arroz fugado, arroz branco, uma massa
tipo esparguete mais fino de origem indonésia, que acompanhavam uns pires de
carne de vaca e de frango, velha e rija como sola. Voltámos a casa do Bispo de
Baucau que entretanto estava a fazer a sesta e que só se levantaria 45 minutos
mais tarde.
Entretanto tinha surgido um Timorense com uma
"tosga" que dava para dez e que insistia em voltar connosco para
Dili. Lá conseguimos correr com o bêbedo -ou ele distraiu-se- e fomos passar o
tempo de espera a visitar a praia de Baucau que tem uma arreia basicamente
composta por pedacinhos de corais, encontrando-se a amiúde grandes pedaços -do
tamanho de duas mãos juntas, com os dedos abertos- mas que não passam em
Darwin, no regresso a Portugal.
Voltámos a casa do Bispo, que já estava levantado, e que
então nos recebeu.
É um homem de uma simplicidade de atitudes e palavras que
nos comove até às lagrimas -pelo menos a mim- e que ficou muito sensibilizado
com as duas prendas que o Sr. Rui Nabeiro lhe levou: a imagem de uma Santa
natural de Campo Maior, e uma outra (?), de porcelana espanhola, tão linda que
nos deixou a todos de boca aberta a admirá-la.
O Sr. Rui Nabeiro transmitiu ao Bispo a sua intenção de
ajudar Timor e de comerciar com Timor.
O Bispo agradeceu e disponibilizou-se a apoiar estas
iniciativas.
Dirigiu-se também ao Dr. Tubal manifestando interesse na
abertura do nosso Balcão na terra. Voltámos para Dili já tarde e fizemos a
viagem de regresso a correr para evitarmos viajar de noite, o que não
conseguimos.
Nesta viagem passámos por Manatuto, que me pareceu bastante
pequena, e da qual fiquei com a impressão de que foi totalmente destruída.
Fui tomar banho e mudar de roupa à Missão e jantei, como de
costume, no Hotel.
Conheci o Leandro Isac -membro das Falintil e relacionado com
o Presidente Xanana-, ficou combinado que no dia seguinte, segunda-feira, se
abalava às sete e meia da porta do Hotel para Ermera, terra do café.
Nova noite em que pouco ou nada dormi -3 ou 4 horas, já que
acordava antes do sol nascer a suar muito e com uma inexplicável espertina,
sendo às 5 horas da manhã completamente de dia.
Ida a Ermera
Seguimos à hora combinada para Ermera. Esta viagem tinha uma
grande comitiva já que se compunha de Timorenses do CNRT, do Eng. João
Carrascalão e da Mulher, de todo o "grupo" Nabeiro e do Dr. Tubal
mais eu -a Eduarda não nos acompanhou porque não tinha conseguido dormir
durante toda a noite.
Nesta viagem passei por florestas de árvores com um tamanho
impressionante de tão altas que eram. Vi, lado a lado, vários tipos de
palmeiras diferentes, quer no formato do tronco, quer nas folhas, quer no
porte. A floresta é muito mais densa que a da zona de Baucau, e os arbustos
ocupam todo o terreno sem deixarem clareiras. As canas de bambu são usados,
para além da construção de casas, como condutas de água.
Chegámos a Ermera com uma paragem pelo caminho onde
visitámos uma escola em que se ensinava o português e onde o Sr. Rui Nabeiro
contribuiu, no local, com um donativo e prometeu financiar o arranjo dessa
mesma escola.
Devo dizer que nestes dois dias de andanças com o Sr. Rui
Nabeiro -tirando os da viagem até Dili- verifiquei por várias vezes que é um
bom homem. Considera a família como muito importante na vida, tendo falado da
Sogra e do Genro, por razões e em circunstâncias distintas, com um carinho
desusado. Mantém recordações muito fortes dos seus princípios que considera
fundamentais alicerces da sua actual vida, porque os tomou como valores que
pode transmitir como ensinamento aos mais jovens. Defende que a vida tem que
ser vivida com o que se nos depara, a sacrificar-nos até, ao tentarmos fazer
sempre o nosso melhor, mas se nos correr mal temos que entender que ganhámos
com a experiência.
Chegámos a Ermera ao meio da manhã.
Não vi plantações de café, como esperava. Vi apenas plantas
que crescem no meio do mato, espontaneamente, cuja produção é colhida pelas
pessoas. Julgo até que, se naturalmente for um ano de boa produção e as
famílias se empenharem a colher bem, a safra do ano será boa. Não há
conhecimentos técnicos para minimizar maus resultados. Disseram-me que o
descasque é feito pondo o café na estrada esperando que as rodas dos caros que
passam partam as cascas.
Pouco nos demorámos, eu e o Dr. Tubal. Voltámos para Dili
onde chegámos por volta das 13 horas.
Em Dili (o resto do dia)
Almoçámos com a Eduarda, que já se tinha levantado, e de
tarde trabalhámos na proposta de crédito até às 20 horas.
Como o Dr. Tubal e a Eduarda tinham sido convidados para o
jantar de despedida da prima dele -uma das médicas que estava na Missão- e como
o Joaquim Bastinhas me tinha convidado para me juntar ao grupo dele ao jantar,
fui num instante tomar banho e mudar de roupa e fui ao encontro deles ao
restaurante.
Só que não os achei embora tivesse andado meia hora de carro
nas imediações do restaurante e perguntado às pessoas que passavam. Isto porque
um elemento do grupo, o assessor de imprensa, me indicou um caminho errado…
Entretanto eram 21 horas, nem o Brito nem o Piedade vinham
recolher o dinheiro do posto de câmbios que fechou às 20.30 horas.
Julguei que estava toda a gente na festa de despedida das
médicas. Mas afinal não houve festa. Nem o Dr. Tubal nem a Eduarda ainda tinham
jantado.
Por acaso encontrei-os, na estrada, junto ao mercado de
Dili.
Já no Balcão, perto das 22 horas, o Dr. Tubal ainda me
desafiou para irmos ao restaurante do Hotel Resende ver o que se comia, mas eu
desisti e jantei bananas e atas que tinha comprado.
Voltei a tomar banho e deitei-me.
Foi mais uma noite que não descansei.
O jantar na Casa Queimada
No dia seguinte, terça-feira, às 5 horas da manhã o Brito e
o Piedade tinham que estar a pé, no Balcão, porque cinco dos nossos colegas iam
para fora de Dili fazer câmbios.
Antes deles se levantarem já eu estava acordado, no escuro,
com a tal, espertina a atormentar-me. Nessa manhã, na Missão, havia lágrimas em
abundância.
As três médicas, uma das quais a prima do Dr. Tubal
regressavam a Portugal.
Foi mais um dia de trabalho em que se deu duro até tarde.
Fomos todos, os do Banco mais os do "grupo" Nabeiro
e o Leandro Isac jantar à Casa Queimada, a convite do BNU.
Este restaurante são as paredes queimadas de uma casa, como
há várias em Dili, coberto com chapas de zinco queimadas, como é natural lá.
Foi varrido e lavado, colocaram nova instalação eléctrica "tipo feito à
pressa", tem uns archotes para acompanhar aquele estilo de tudo queimado,
mesas e cadeiras, também escuras.
Os pratos do dia eram febras de porco e rissóis de atum de
conserva. Não escolhi os rissóis, para não comer fritos, mas, qual não foi o
meu espanto que as febras eram entremeadas fritas!!!. Maldito jantar!
Esperei quase até à 1 hora da manhã para fazer a digestão
porque sem banho é que não me conseguia deitar. Tinha saído do Banco depois das
20 horas e sem tomar banho fui jantar. Não, estava decidido. Sem banho não me
deitava.
Tive que esperar sozinho que o tempo passasse. Enquanto
esperei tive a oportunidade de ouvir o "canto à desgarrada" de uns
lagartos que vivem nas árvores que parece que dizem "TOU CÁ".
O dia em que me deu o "fanico"
Na quarta-feira levantei-me mal disposto, com uma sensação
de enfartado que julgava ser do jantar na Casa Queimada e cansado fui
trabalhar.
Neste dia, 1 de Março, iniciou a sua actividade um novo
elemento do BNU de Dili, o João Corte Real, que o Dr. Tubal contratou para a
análise do crédito. Pareceu-me ser um bom elemento e que o Dr. Tubal fez uma
boa contratação.
Também para esse dia estava combinado que deixaríamos a
Missão e íamos para uma das casas do Banco arranjada, entretanto, à pressa.
Tínhamos a vantagem de deixarmos as casernas e de termos um espaço mais fresco
e arejado, com casa de banho, só para quatro pessoas. Esperava-se que as
condições de vida ficassem muito melhores.
À hora do almoço, comecei a sentir de repente uma forte dor
no peito, com sensação de náusea. Fomos à Missão procurar as médicas e reparei
que dentro do carro, com o ar condicionado ligado, a dor e a náusea abrandavam.
Na rua, ao calor, acentuavam-se.
Esta quarta-feira estava particularmente quente. Foi o
primeiro dia completamente sem nuvens.
Fui para o hospital onde me fizeram dois
electrocardiogramas, com espaço de cerca de quatro horas entre eles e me
tiraram sangue para análise de enzimas. Quer os electrocardiogramas quer as
análises provavam que não tinha havido enfarte, situação que, atendendo aos
sintomas que eu apresentava, tudo parecia indicar.
Entre os exames médicos, e após a segunda pastilha que me
colocaram sob a língua, deixei-me dormir.
A médica era de opinião que eu ficasse nessa noite no
hospital, que com poucas condições são melhores que as da Missão e que depois
de três ou quatro dias de descanso deveria regressar a Portugal.
Quanto a ela o sistema periférico venoso dilatava com o
calor forte e daí resultava um menor afluxo de sangue ao coração. Se não foi
isso que ela tecnicamente disse, pelo menos foi o que eu entendi. O Dr. Tubal
decidiu então que eu passaria a noite num quarto do hotel já que tem ar
condicionado, com o que a médica concordou desde que eu tivesse companhia, e
que no dia seguinte voltava a Portugal já que podia contar com a companhia do
"grupo" Nabeiro que também regressava. A médica concordou com a
ideia, só porque eu tinha companhia, já que na sua opinião eu devia descansar.
Estive quase a ir dormir no quarto do Joaquim Bastinhas que
foi simpático e franco ao ponto de disponibilizar logo a sua cama para eu
descansar, caso o hotel estivesse cheio. Já antes tinha sido ele que se tinha
deslocado do hospital onde eu fui socorrido, para um outro da ONU, com a minha
amostra de sangue para ser analisada.
Por fim lá se conseguiu um quarto e a minha companhia foi o
Piedade.
Essa noite dormi com a ajuda de um comprimido.
No dia seguinte às 7 horas da manhã já estava no hospital a
repetir o electrocardiograma que, como os anteriores, indicava que tudo estava
bem.
A médica autorizou que eu fosse à Missão buscar o resto da
minha roupa.
Despedi-me dos Colegas do Banco, arrumei as malas, deixei
medicamentos que levei para Timor ao hospital, pasta de dentes, pomada, água de
colónia e quinino aos meus três colegas moradores na casa do Banco e uma
t-shirt do BNU e um mini-rádio à colega Ana que me deu uma ajuda, na Missão, a
arranjar lavadeira.
Regresso a Portugal (de Timor para Darwin)
Depois de almoço, a meio da tarde, abalei de Timor, com todo
o apoio possível do Dr. Tubal e da Eduarda, com destino a Darwin.
Cheguei a Darwin debaixo de uma chuvada imensa, mais ou
menos ao mesmo tempo que o "grupo" Nabeiro abalava de Darwin para
Singapura.
Não regressei com eles. Vim só.
Passar a alfândega de Darwin é um aborrecimento, pelas
razões indicadas no início desta narrativa. Por fim apanhei um táxi, para um
hotel onde o Dr. Tubal previamente tinha reservado um quarto, guiado por um
inglês que desde os cinco anos imigrara para a Austrália, acompanhando o pai
que era militar.
Após tomar banho saí para jantar num restaurante de um
grego, ao lado do hotel.
Deitei-me. Tomei novo comprimido para dormir.
No dia seguinte levantei-me, guardei as malas no hotel e saí
para tomar o pequeno almoço e ir às compras. Tinha que trazer para os meus
filhos polos de râguebi dos "wallabies". Foram, se calhar, mais caros
do que se os comprasse em Portugal. Mas são pelo menos genuínos.
Depois das compras e ainda bastante cedo apanhei um táxi
-desta vez o condutor era um dinamarquês que nos seus primeiros tempos de
Austrália teve muitas dificuldades- para o aeroporto onde almocei e esperei
pelo meu avião que só abalava ao fim do dia.
Devo ter estado uma cinco horas no aeroporto em Darwin.
Regresso a Portugal (de Darwin para Singapura)
A viagem até Singapura decorreu sem quaisquer problemas.
Jantei e depois dormi a viagem toda.
Regresso a Portugal (de Singapura para Lisboa)
Cheguei bem disposto e aparentemente descansado a Singapura.
No aeroporto encontrei um português que tinha conhecido em
Timor e que voltava também para Portugal.
Fui ao "transfer" tratar dos passes de embarque
para as viagens Singapura/Londres e Londres/Lisboa onde fui muito bem atendido
e onde me indicaram a sala de espera de "executivo". No caminho até
lá fui vendo as lojas e os preços dos artigos -estive até com uma raquete de
ténis na mão, mas pelo preço não valia a pena vir carregado- vi a actuação de
quatro bailarinas e cheguei, então, a sala de espera.
Nisto, sem razão aparente, começo a sentir a dor no peito e
a náusea. Tinha estado em Darwin às compras, toda a tarde sentado no aeroporto,
tinha dormido pelo menos três horas durante a viagem até Singapura, estava
completamente descansado e a dor a subir cada vez mais de intensidade.
Pedi socorro na recepção, foram buscar uma cadeira de rodas
e levaram-me ao posto médico. Coloquei um comprimido debaixo da língua e logo
depois um segundo.
Fiz um electrocardiograma. Como era semelhante aos
anteriores e como a dor me estava a passar deixaram-me embarcar. Foram quarenta
minutos de susto sobre susto. Estava a ver-me hospitalizado no meio de
"chinocas" até que me deixassem abalar de lá.
No meio disto tudo tinha que estar com atenção ao passaporte
à bagagem de mão e à bagagem de porão que chegou a ser retirada do avião e
posteriormente embarcada.
Finalmente, de cadeira de rodas, embarquei.
O meu companheiro de lado fez o favor de arrumar o meu
"trólei", comi uma salada, tomei um comprimido para dormir e fiz por
dormir.
Até Londres, que são doze horas de viagem, não dormi sempre
mas nem me levantei da cadeira. Nem me mexi.
Regresso a Portugal (de Londres para Lisboa)
Em Londres saí deste avião, no terminal 4 e fui até ao 1 sem
quaisquer problemas. Fui para a sala de espera de "executivo" onde
cheio de fome comi umas bolachinhas secas e bebi água, mas antes avisei a Wanda
que estava de regresso.
Dei uma volta pelas lojas. Gastei as libras que tinha levado
de Portugal e embarquei para Lisboa. Almocei, pouco, na viagem. E cá cheguei.
Tinha a Wanda, o Zé Manel e a Salomé à minha espera.
E mais esperaram por mim, porque do aeroporto segui para o
hospital dos SAMS. Voltei a fazer electrocardiograma e análises ao sangue.
Deram-me um valium a beber o que me provocou sair de lá praticamente a dormir,
com a recomendação de que deveria consultar a minha cardiologista o mais
depressa possível mantendo os comprimidos de colocar sob a língua sempre à mão.
No Domingo de manhã fui visto pela Drª. Quitéria, no
Hospital de Setúbal. Examinou-me o coração -ecocardiograma-, marcou-me novos
exames para o fim do mês, disse-me para ficar em casa a descansar e duplicou a
dose do "Dilblok" -para eu estar "numa boa".
Tenho dormido,… e sexta-feira, dia 17 de Março volto ao
trabalho.
Setúbal, 15 de Março de 2000
Curiosidades
aprendidas com a Celice Sarmento
O diak ka lai Þ Como estás (usado para pessoas com quem
não se faz cerimónia)
Ita diak ka lai Þ Como está (usado para pessoas com quem
se faz cerimónia)
Favor ida1 Þ Por favor (um1 favor)
Labele Þ Não pode
Han Þ Eu
O Þ Tu
Ita Þ Você
Nia Þ Ela /Ele
Ami Þ Nós
Sira Þ Eles
Imi Þ Vocês
Tudik Þ Faca
Uma Suno Þ Casa queimada
Uma Lulik Þ Casa sagrada
Caladi Þ Saloio (palerma)
Nomes de “guerra”
de elementos das Falintil
Taur1 Matan2 Ruak3 Þ Dois3
olhos2 partidos1 Chefe
de Estado-Maior
Falur1 Rate2 Laek3 Þ Pombo1
sem3 campa2 Comandante
da Região 2
Eli1 Fohorai2 Boot3 Þ Élio1
boa2 grande3 Vice-comand.
da Região 2
Kalohan Þ Nuvem Comand.
Região ? (falecido combate)
Klamar Þ Alma Comandante
Lere Þ Destronca Comandante da Região 1
Ular Þ Cobra Comandante
da Região 4
Sabika Þ ????? Comandante
da Região 3
Xanana Þ Guerreiro Comandante das Falintil
Leandro Isac Porta
voz do CNRT (é de origem
Moçambicana)
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