Na revista EXAME deste mês de Novembro, sobre o título "Banco Nacional Ultramarino, o BPN de Salazar" saiu o artigo, de Filipe S. Fernandes, cujo texto transcrevemos abaixo.
Como poderá verificar-se o BNU na
década de 30 viu-se forçado a reduzir despesas, deixando de pagar subsídios aos
empregados e fechando inúmeras agências!... Todavia, passadas pouco mais de três
décadas, a sua recuperação foi tal que abriu dezenas de agências e
delegações entre as quais destaco a
Matola em 1967 e a Machava em 1972, em Moçambique. Nas suas aberturas esteve
o signatário, na primeira como Imediato
e na segunda Encarregado da Delegação da qual apresento algumas fotos, sem
qualquer outra intenção que não seja o facto histórico da evolução daquele que veio a ser considerado o maior Banco Português e no qual
viemos a participar com o maior entusiasmo e dedicação.
A delegação da Machava foi inuaugurada em 29 de Março de 1972, tendo sido o seu 1º encarregado António Matos de Carvalho e tendo estado presentes as seguintes individualidades:
Director do BNU em Moçambique: Jorge Anastácio
Inspector do B.N.U. em Moçambique: Dr. Mário Pinto
Manuel Martins Mascarenhas: Gerente Geral - Filial B.N.U – Lourenço Marques
Inspector do Conselho de Câmbios: Dr. Moura Santos
Presidente da Cometal-Mometal: Engº. Santos Ferreira (a)
Administrador do Concelho da Matola
Bertoldo Duarte Camacho – Professor
João Figueiredo – Industrial de Móveis
Anastácio Fernandes – Técnico de contas
etc.
António Matos de Carvalho
A delegação da Machava foi inuaugurada em 29 de Março de 1972, tendo sido o seu 1º encarregado António Matos de Carvalho e tendo estado presentes as seguintes individualidades:
Director do BNU em Moçambique: Jorge Anastácio
Inspector do B.N.U. em Moçambique: Dr. Mário Pinto
Manuel Martins Mascarenhas: Gerente Geral - Filial B.N.U – Lourenço Marques
Inspector do Conselho de Câmbios: Dr. Moura Santos
Presidente da Cometal-Mometal: Engº. Santos Ferreira (a)
Administrador do Concelho da Matola
Bertoldo Duarte Camacho – Professor
João Figueiredo – Industrial de Móveis
Anastácio Fernandes – Técnico de contas
etc.
António Matos de Carvalho
O BPN de Salazar
Em 1931, o Banco Nacional Ultramarino foi objeto de um
resgate feito pelo Estado que chegou a irritar o então ministro das Finanças.
Os acionistas privados perderam 75% do Capital.
Texto Filipe S. Fernandes, Infografia Carlos Paes
"Sou obrigado a declarar em nome do lugar, da minha
inteligência e até da minha honestidade pessoal que isto não pode continuar
assim", escrevia, em carta de 20 de agosto de 1931, o ministro das
Finanças, António de Oliveira de Salazar, ao seu homólogo das Colónias, Armindo
Monteiro, referindo-se à operação de resgate do Banco Nacional Ultramarino
(BNU). Nesta carta calculava que os apoios atingiam os 134 mil contos,
"despendidos pelo Tesouro no espaço de meses", além de 75 mil contos
de redesconto do Banco de Portugal. A sua exasperação resultava do facto de a
administração, que tomara posse a fevereiro de 1931 se dirigir ao Ministério
das Finanças com "a simplicidade, a sem cerimônia com que afirma que não
tem dinheiro e avisa o Tesouro e pede ao Tesouro que lhe dê".
A queda do BNU começara pouco depois de em 20 de junho de
1930 ter autorizado uma garantia de 66 mil libras por conta do Dresdner Bank
para obras no Porto do Lobito. Logo a seguir comunicou ao Ministério das
Finanças que não tinha capacidade para facilitar a prorrogação de créditos ou
conceder outros empréstimos a taxas de juro baixas para as infraestruturas como
do Porto do Lobito e o caminho de ferro do Zaire em que estava envolvido,
apesar de ter deixado de ser banco emissor de Angola em 1926. Em outubro de
1930, o BNU teve de reagir a uma corrida aos bancos no Brasil, o que não se
devia a qualquer desconfiança, mas ao "alarme originado pela revolução e
necessidade de dinheiro provocado pela paralisação dos negócios", como
revelava o telegrama da embaixada portuguesa no Rio de Janeiro. Pediam-se 200
mil libras e o banco do BNU em Londres respondeu com 90 mil libras. A 21 de
outubro de 1930, precipitou-se a queda do Banco do Minho, em dificuldades desde
1927. Em reunião de 28 de outubro administração do BNU assinalou a "saída
anormal de depósitos" nas agências do Norte do pais.
Os problemas que atormentavam o BNU foram ampliados pela
crise económica e financeira iniciada em 1929, ano em que o banco ainda
distribuiu 11 mil contos em dividendos, e que fustigou sobretudo uma
organização com dimensão global. O BNU, que fora fundado em 16 de maio de 1864
por iniciativa e capitais de Francisco Chamiço, era o banco emissor para as
colónias de Cabo Verde, Moçambique, Angola (até 1923), Índia, Timor e Guiné.
Com a gestão de João Henrique Ulrich (1880-1956), escolhido para governador em
1918, a estratégia de crescimento dirigiu-se para a criação de uma rede de
agências em Portugal continental e a implantação do BNU nas principais praças
financeiras, como Paris, Londres e Nova Iorque, e no mercado da emigração, como
o Brasil. Mas também havia uma grande exposição ao risco. Numa carta de 24 de
novembro de 1930 de José Sousa da Costa ao ministro das Finanças, Oliveira
Salazar, relacionava-se alguns empréstimos vultosos concedidos a empresas em
dificuldades com relações pessoais a gestores do BNU. Elencava quatro empresas
que se encontravam em grandes dificuldades financeiras e em que o risco
assumido pelo banco atingia os 66 mil contos. Depois referia: "É do maior interesse
público inclusivamente por decoro nacional que o nosso banco emissor das
Colónias sofra uma sindicância séria aos seus atos gestivos e que a maioria da
sua direção ou corpo de administração seja substituído, senão verá o senhor
ministro o crack que se dará com o prejuízo e vergonha para o nosso nome português."
João Ulrich tenta salvar o BNU
A luta pela sobrevivência do BNU ainda estava no princípio.
Uma diretiva da inspeção e Fiscalização do BNU, com o selo de
"Confidencial", de 5 de dezembro de 1930, dava instruções aos
gerentes das dependências: "Tendo-se notado que estão sendo reduzidas, dia
a dia, as contas de captação, urge tomar as medidas necessárias para que as
nossas caixas não sejam desfalcadas e, assim, à receção da presente, devem V. Ex.as
orientar-se pela seguinte forma: 1º Não angariar novas operações de colocação,
2° Não consentir reformas de letras sem que, pelo menos, haja uma amortização
de 20%: 3° Em todas as contas correntes autorizadas, à medida que se forem
vencendo, exigir também uma amortização de 20%; 4° Reduzir ao mínimo os
descontos que os senhores gerentes estavam autorizados a fazer até à quantia de
15 contos." Revelava preocupação com a publicidade destas medidas: "É
evidente que todas estas instruções serão cumpridas com a maior prudência para
não levantar alarmes injustificados."
Os boatos sobre a grave situação não paravam e criava-se um
ambiente propício à corrida aos levantamentos. Por isso, a 10 de dezembro de
1930, Oliveira Salazar emitiu a nota oficiosa sobre "A Crise e os seus
aspetos bancários": "Não esteve nunca o governo desatento,
desinteressado ou inativo perante o desenrolar dos acontecimentos, não só
porque envolviam um sector importante da vida nacional, mas por se referirem
também a estabelecimentos intimamente ligados ao Estado por atribuições que neles
delegou." A 12 de dezembro de 1930 foram oferecidos ao BNU obrigações da
Caixa Nacional de Crédito para caução de um depósito de 20 mil contos feito
pelo Tesouro.
Duas semanas depois, foi o próprio governador do BNU, João
Henrique Ulrich, a dirigir-se aos seus funcionários com as instruções confidenciais de 18 de dezembro de 1930. O
gestor começava por fazer uma análise do contexto em que o BNU estava a atuar.
Os mercados de todo o mundo vêm atravessando uma crise como de outra igual não há memória: crise económica, crise
financeira, crise comercial e crise social. Portugal não poderia fugir ao
embate." Depois explicava a situação do próprio banco: "O BNU,
espalhada a sua rede de dependências por todos os continentes, tem sofrido o
choque das mais diferentes crises e tem-se visto forçado a apoiar e a amparar a
sua clientela através das vicissitudes porque ela tem passado. Assim, enquanto
no Brasil se desencadeava uma revolução que perturbava completamente a vida de
todos os estabelecimentos bancários estrangeiros e nacionais, bem como a
agricultura, o comércio e a indústria locais, nas nossas colónias agravavam-se
as dificuldades gerais, por virtude de continuada baixa dos produtos coloniais
e de dificuldades de crédito acumulados, e na metrópole aumentava o mal-estar,
multiplicavam-se as falências, diminuía a confiança do público nos mais
robustos estabelecimentos bancários e a Bolsa entrava num verdadeiro período de
pânico, com uma depressão progressiva de todos os papéis de crédito, com
exceção dos do Estado." Seguiam-se cinco páginas de instruções, oito das
quais versavam sobre a redução de circulação e três para a melhoria da posição
do banco no exterior.
Soam os alarmes de falência do BNU
As medidas não foram suficientes e, em fins de janeiro de
1931, João Uhich, governador, e os restantes administradores colocaram os lugares à disposição do
Ministério das Finanças, o que levou à intervenção imediata do Estado no BNU. A 11 de fevereiro de 1931, nomeou-se o
novo conselho administrativo para o BNU liderado por António dos Santos Viegas
e com oito administradores. Rapidamente se deu conta dos inúmeros problemas, da
falta de dinheiro e da urgência de soluções. A 19 de fevereiro de 1931, o
administrador Quirino de Jesus escreveu a Salazar, de quem era próximo e a quem
escrevia com regularidade, dizendo: "Recebeu-se esta tarde da filial de
Bombaim o telegrama incluso, de que resulta que temos de cobrir o Banco de
Londres com 90 mil libras, sendo 50 mil amanhã, 20 do corrente, por ordem
telegráfica, e 40 mil em 28 do corrente. Para a primeira remessa não estamos
habilitados [...). Por isso lhe venho pedir em nome do conselho que nos faça o
favor de habilitação àquela transferência de 50 mil libras." O Banco de Londres,
que era o Anglo Portuguese Colonial & Overseas Bank também conhecido por
Ultramarino-Londres, só tinha 80 mil libras de disponibilidades. Todos os dias
surgia mais um sinal do agravamento da crise do BNU. Desta vez com contornos
internacionais. Um telegrama de 24 de fevereiro de 1931, da agência de Bombaim,
dava o sinal: "11 de fevereiro abrimos crédito a favor da Garland
Petroleum Cª San Francisco por intermédio de Ultramarino-Londres. Tomador
recebeu comunicação telegráfica, beneficiário recusa fazer carregamentos
enquanto não abrir um crédito por intermédio de outro banco visto que recebeu
notícias falência BNU."
Uma das primeiras decisões de nova gestão foi enviar
administradores para avaliarem a situação do BNU no Brasil, França, Moçambique
e Bombaim e depararam-se com sinais de catástrofe anunciada. A 7 de março de
1931, o conselho administrativo faz chegar ao governo um diagnóstico sabre a
situação do BNU. Detetou 242 408 contos de prejuizos efetivos "alguns de
longa data, que não foram amortizados nos exercidos em que se produziram ou
verificaram, nem nos subsequente". Acrescentavam ainda 29 268 contos de
créditos recuperáveis e 28 324 de cobrança difícil. Estes números equivaliam a
um décimo do ativo total da barra comercial. Entre 10 de fevereiro e 7 de março
de 1931, o Estado finananciou o banco com 70 mil contos, sob a forma de desconto
de saques sobre o estrangeiro e de depósitos na caixa do banco". Adiantava
o relatório que "as importâncias com que o Estado até hoje financiou o
banco, vieram substituir depósitos de clientes e liquidar operações anteriores,
ficando a atividade do banco paralisada, quase completamente, como que em
liquidação. Em consequência de noticias alarmantes, anteriores e posteriores a
10 de fevereiro de 1931 e de inatividade do banco, o crédito no estrangeiro, na
sede, provincia e ultramar, restringiu-se consideravelmente. Na sede e em todas as dependências
do banco levantam os comerciantes, a quem se negam operações, os seus depósitos
e levem-nos para os bancos com que vão trabalhar, e também levantam os
depósitos os intimidados pelo contacto com aqueles comerciantes". O programa de refinanclamento previa 80 mil contos para operações de redesconto, um depósito do estado de 20 mil, "mínimo que se julga indispensável, copmjuntamente com a transferência para a Caixa Geral de Depósitos (CGD) de operações dos caminhos de ferro do Vale do Vouga,
Companhia Aguardentes de Madeira e Companhia das Águas, no total de 28 mil
contos", o que somava cerca de 126 mil. Seguia-se um programa de ação em
oito pontos, em que se incluíam cortes de despesas, encerramento de agências,
operações de refinanciamento e recuperação de créditos.
Estado resgata o Crédito Predial Português
A crise bancária parecia alastrar-se. A 5 de março de 1931,
o governador do Crédito Predial Português reuniu-se com o ministro das
Finanças, Oliveira Salazar para pedir ajuda financeira. No dia seguinte,
"muitos depositantes a levantarem o seu dinheiro, aflitos, assustados, apressados e
exigentes. E, ás 11 horas, tinha de pedir a assistência ao senhor ministro que ma deu de imediato", como narrou
Sousa Rodrigues na assembleia geral do banco, de 21 de março de 1931. As
dificuldades do Crédito Predial iniciaram-se no segundo semestre de 1930 e já
tivera de recorrer a empréstimo do Montepio e da CGD. O Tesouro injetou 20 mil
contos num aumento de capital, passando a deter 69%. O grande problema do banco
estava nos empréstimos à Companhia Industrial Portuguesa, a quem emprestara,
entre 1925 e 1931, 35 350 mil contos e que estava em grandes dificuldades
financeiras. Na reunião da administração do BNU de 20 de março de 1931, António
Santos Viegas dizia que a "liquidação do passivo do banco continua,
tendo-se mesmo agravado na semana de 11 e 17 de março, em que a média de
excesso de saídas sobre as entradas diversas atingiu o seu ponto culminante, a
partir de 22 de setembro de 1930". Referia que a média diária tinha sido
de 974,2 contos durante 148 dias o que dava 144 184 contos. A 23 de março, o
governo autorizava o BNU a fazer um aumento de capital de 25 mil contos
subscrito pelo Tesouro em ações preferenciais e 75 mil de "assistência
financeira autorizada". Mas nem este balão de oxigénio pacificou o
ambiente. Esta constante tensão passou para a administração e a 26 de março de
1931, António dos Santos Viegas escreveu a Salazar comunicando-lhe o pedido de
demissão devido a desinteligências com Quirino de Jesus, que tem "com V.
Ex.a relações quasi constantes em assuntos de administração pública". Tudo
se compôs e dos Santos Viegas liderou o BNU até 1948. A 15 de abril de 1931,
o Banco de Portugal, que tinha admitido um limite de redesconto ao BNU de 75
mil contos, quis restringir para 30 mil, o que não aconteceu. A 21 de abril,
António Santos Viegas dava conta à administração de que o ministro das Finanças
autorizara a anulação de saques sobre Londres a vencer em 20 de maio e no total
de 186 mil libras. Eram adquiridos pelo Tesouro e os escudos correspondentes
(19 995 contos) eram Incluídos no programe de financiamento ao banco.
Investigação policial impedida
A 2 de julho de 1931, o diretor da Polícia de Investigação
Criminal, José Alves Monteiro Júnior, acompanhado por peritos contabilistas,
foi à sede do BNU para fazer um exame à escrita do banco e analisar os últimos
seis anos das contas. A administração do BNU, temendo os efeitos nos mercados,
resolveu pedir ao diretor da polícia "para suspender a devassa de escrita
até ser ouvido o governo sobre o assunto". A nova administração foi
cautelosa na procura de responsáveis pela situação financeira. Nas auditorias
feitas pelos administradores apuraram-se falhas graves nas dependências do BNU
no Brasil, Bombaim e Moçambique. Neste, só não houve lugar para aplicação de
sanções porque a morte inesperada do responsável pelos danos "liquidou
definitivamente e sem escândalo a situação", escreveu a administração.
Esta admitiu que afastou um gerente e demitiu dois quadros superiores em
Moçambique. Argumentava ainda que "nem sempre os prejuízos sofridos
correspondem a fraude dos gerentes, que não são isentos de possibilidade de
erro". Por outro lado, a justiça nem sempre aceitava os argumentos do
banco.
Em 14 de julho de 1931, havia mais um apelo lancinante do
BNU ao ministro das Colónias, Armindo Monteiro, em que se expunha "a
perigosa situação de Caixa em que hoje se encontra" e "a
urgência de uma intervenção do governo", pois às 12 horas
desse dia as disponibilidades eram de 3827 contos. As remessas mensais que
Lourenço Marques fazia para Londres passaram de 30 mil para 10 mil libras, pelo
que "o recurso ao desconto de saques sobre Londres, para fazer caixa em Lisboa,
está vedado". Dava-se conta também de que a redução de despesas atingia na
metrópole os 1000 contos. A 15 de agosto de 1931, uma nova carta a Armindo
Monteiro referia que o reforço de caixa de 10 mil contos feito há um mês se
esgotara. Na resposta, o ministro das Colónias pedia explicações e, em nova
carta de 18 de agosto, a administração do BNU explicava que estas dificuldades
"não representavam propriamente uma crise de falta de confiança no Banco,
mas, sim um reflexo das dificuldades gerais da época presente".
Foi nesta altura que António de Oliveira Salazar quase
perdeu a paciência. Este e Armindo Monteiro recebiam os balancetes de caixa
diária do BNU, que durou até pelo menos 1940. Estava a negociar-se o
financiamento do Estado ao BNU feito pela CGD o que obrigava a vários contratos
e em que o BNU dava como aval ao Estado o imobiliário, como a sede e as ações
detidas peio BNU. Mas, a 24 de agosto, pelas 17 horas, o conselho de
administração e o conselho fiscal reuniram e concluíram que as condições propostas
seriam difíceis de cumprir. Em carta a Armindo Monteiro, de 28 de agosto,
António de Oliveira Salazar escreveu. "O Ministério das Finanças tem feito
o possível com sacrifício manifesto do Tesouro, por estabelecer condições
favoráveis para o banco, em todos os contratos, sem poder prescindir em absoluto de garantias que o pais não perdoaria não fossem exigidos. Entende o
conselho administrativo do BNU que são tão desfavoráveis essas condições que já prevê não poder cumpri-las e por isso ao assinarem livremente como
contratante, mas apenas as aceita coagido, por essa ser a vontade do Governo?
Se é esta a significação da frase citada, o Ministério das Finanças não assinará o contrato, que só existe como expressão da vontade das partes
interessadas." Mas neste braço de ferro negocial o BNU conseguiu que, como os
encargos de tinanciamento aumentavam, o Ministério das Finanças isentou o banco
do pagamento de contribuição industrial.
Sete anos para fazer o turnaround
A 15 de setembro de 1931, a administração avisava que "o
crédito do BNU no estrangeiro não foi restabelecido completamente, continuando o
Banco privado de facilidades de crédito que antes tinha no Comptoir National
d'Escompte e no Barckays Bank, de Londres, com os quais trabalhava no
UItramar. Apenas o Apcob tem conseguido manter a sua posição de crédito sem
abalo maior por efeito de elevada categoria das pessoas que compõem a sua
direção. Entre elas contem-se Sir Samuel Hoare que pertence atualmente ao governo
nacional inglês, como secretário de Estado dos Negócios de Índia".
Referia-se também à gestão de crise com o encerramento de agências Ibo e Bolama em
Moçambique e Fundão em Portugal, a transformação de agências em
correspondências (Chaves, Mirandela, Penafiel, Barcelos, Tomar e Setúbal),
deixou de preencher vagas, cortou alguns vencimentos e gratificações e adaptou
o princípio de dispensa de pessoal por faltas cometidas "por incapacidade
ou desmerecimento de confiança, que eram punidas de maneira menos severa".
Por volta de 20 de setembro, Oliveira Salazar discriminava
num papel os apoios dados ao BNU desde 13 dezembro entre depósitos do Tesouro,
empréstimos, aumentos de capital, suprimentos para pagar saques, o que somava
144 895 contos, a que se acrescentavam 90 mil libras e a linha de crédito de 75
mil contos no Banco de Portugal. Finalmente foram assinados a 3 de novembro os
contratos entre o Estado, a CGD e o BNU. Em 2 de janeiro de 1932, foi atribuído
ao banco em Londres, Anglo Portuguese Colonial & Overseas Bank que
mantivera as suas contes saudáveis, uma garantia de 500 mil libras sobre o
BNU. António Oliveira Salazar numa carta manuscrita de 2 de Janeiro de 1932 em
que se referia às condições: a) A garantia não poderá ser tomada efetiva; b) É
limitada a um ano; c) Só poderá ser comunicada ao Banco de Inglaterra e aos
banqueiros e aos bancos com quem o Anglo Portuguese Colonial & Overseas
Bank trabalhe; d) A situação do BNU em Londres será comunicada quinzenalmente
ao Ministério das Finanças.
A crise bancária em 1930-1931 teve efeitos sobre a atividade
financeira. O desconto de letras caiu 20%, os créditos de longo prazo sofreram
uma redução de 60% e cinco bancos entre os quais o Banco do Minho e o Banco
Português e Brasileiro faliram e houve uma razia nas casas bancárias. Os primeiros
lucros contabilísticos, cerca de 10 mil contos, apareceram nas contas do BNU de
1935, mas os primeiros lucros operacionais só no ano seguinte. Entre 1931 e
1936 os prejuízos foram de 127,3 mil contos, a redução de despesas gerais foi
36% a que se juntou uma retoma da atividade económica e do banco. No Brasil a
crise do BNU também foi difícil de debelar porque a dada altura, em fevereiro
de 1934, uma campanha de descrédito do banco feita por um ex-funcionário levou
"a fartos levantamentos" como dizia o telegrama de filial do BNU no
Rio de Janeiro. Estes imponderáveis podiam ter provocado a insuficiência de
fendas na filial brasileira.
Sete anos depois, o governo considerava que se podiam
definir "as bases essenciais de reorganização" do BNU. Este tinha
reembolsado à CGD o empréstimo de 75 mil contos, estavam extintas as
responsabilidades do banco por redesconto, que tinham atingido as dezenas de
milhares de contos, tinha largos recursos em moedas estrangeiras, o que lhe
dava uma outra posição nos mercados internacionais e os bancos em Londres,
Paris e Brasil estavam também numa situação favorável. Por isso decidiu reduzir
o capital em 40 mil contos e, como se explicava no decreto-lei, "o Estado
português, até ao presente, nada perdeu com o auxilio prestado ao BNU, e de
esperar é que, agora, que o seu crédito está consideravelmente reduzido e o
banco entrou numa fase de maior prosperidade, nada venha a perder". Mas só
em 1951 o BNU regressou à normalidade estatutária e apenas em 1953 se assinou
novo contrato de concessão entre o Estado e o BNU.
Não deixa de ser interessante o que dizia o governador do BNU, João Henrique Ulrich aos seus funcionários em 18 de dezembro de 1930: "Os mercados de todo o mundo vêm atravessando uma crise como de outra igual não há memória: crise económica, crise financeira, crise comercial e crise social. Portugal não poderia fugir ao embate".
ResponderEliminarOnde é que já ouvimos isto sobre os dias presentes? popucos anos depois começava e terrível 2ª guerra mundial. Escaparemos desta?
A chamada "Primavera Arabe" pode ser um sinal.Araujo
ResponderEliminar