A capital da província de Cabinda é a cidade de Cabinda.
Tem uma superfície de 7 283 km² e cerca de 265 000
habitantes. Os habitantes de Cabinda são conhecidos como Cabindas ou
ainda por "fiotes". O dialeto falado é o Ibinda.
Cabinda, conhecida no passado como Congo Português, foi a parcela do antigo Reino do Congo atribuída a Portugal, por ocasião daConferência de Berlim (1885), quando simultaneamente nasceram o Congo Belga (ex-Zaire e actual República Democrática do Congo) e o Congo Francês (ex-Congo Brazzaville e actual República do Congo). Cabinda era unida territorialmente a Angola, mas a Bélgica reivindicou uma saída para o Atlântico para o seu Congo Belga, o que foi concedido por Portugal através de um acordo, selando definitivamente a separação de Cabinda do restante de Angola.
Nas vésperas da referida Conferência, os príncipes e os notáveis de Cabinda assinaram o Tratado de Simulambuco com Portugal, pelo qual o território de Cabinda passou a ser protectorado luso.
Cabinda, conhecida no passado como Congo Português, foi a parcela do antigo Reino do Congo atribuída a Portugal, por ocasião daConferência de Berlim (1885), quando simultaneamente nasceram o Congo Belga (ex-Zaire e actual República Democrática do Congo) e o Congo Francês (ex-Congo Brazzaville e actual República do Congo). Cabinda era unida territorialmente a Angola, mas a Bélgica reivindicou uma saída para o Atlântico para o seu Congo Belga, o que foi concedido por Portugal através de um acordo, selando definitivamente a separação de Cabinda do restante de Angola.
Nas vésperas da referida Conferência, os príncipes e os notáveis de Cabinda assinaram o Tratado de Simulambuco com Portugal, pelo qual o território de Cabinda passou a ser protectorado luso.
Após o 25 de Abril ficou integrada na República de
Angola.
BNU - Cabinda |
O Enclave de
Cabinda em 1917
Corria
o ano de 1917, quando o delegado do Banco Nacional Ultramarino, Telmo Bandeira
foi encarregado pela direção do Banco, através de uma carta reservada, enviada
em abril para São Tomé, da missão de visitar as propriedades da Companhia de
Cabinda, no Mayombe, antigo Congo Português.
Partiu
de São Tomé no Vapor Zaire, da Empresa Nacional de Navegação, em 11 de agosto,
com destino a Cabinda, onde chegou no dia 13 à noite. Seguiu no dia 15 para
Chiloango, para se encontrar com o Sr. António Victorino, administrador da
Companhia. Da localidade, seguiu em tipoia (meio de transporte terrestre
tradicional) até ao Chinfimo, na margem esquerda do Rio Chiloango a 20
quilómetros da foz, e dali até à povoação do Chiloango, no Vapor Pinto da
Fonseca, propriedade da Companhia.
O
percurso, feito em Tipoia de Cabinda ao Chinfim (30 quilómetros), fazia-se em
cerca de 6 horas, e deste porto ao Chiloango, no vapor, rio abaixo, demorava-se
cerca de meia hora. Se o percurso fosse efetuado diretamente de Cabinda ao
Chiloango, em tipoia (cerca de 40 quilómetros), o tempo gasto seria, no mínimo,
cerca de 8 horas.
A
tarefa tinha como principal objetivo, a elaboração de um relatório para ser
enviado à gerência do Banco, em Lisboa, fazendo uma descrição minuciosa do
estado dos territórios em posse da Companhia, mas também de outros terrenos que
o Banco pretendia adquirir no território.
Um
ano mais tarde a Companhia de Cabinda iria elevar o seu capital social para
três milhões e seiscentos mil escudos, operação realizada por um importante
grupo de investidores, encabeçado pelo Banco Nacional Ultramarino.
O
relatório elaborado pelo empregado do BNU Telmo Bandeira exerceu muita
influência neste aumento de capital da Companhia, liderado pelo BNU.
Essa
força está implícita no relatório de 1918 da própria Companhia de Cabinda, onde
é frisado o seguinte:
“Encontra-se portanto actualmente a nossa companhia em condições de
desafogo para desenvolver as suas plantações, mormente as de cacau que na
opinião do delegado do Banco Ultramarino pode antes de 5 anos atingir uma
produção de 76.000 arrobas”.
Telmo
Bandeira elaborou um relatório completo sobre tudo o que presenciou na região,
fazendo uma descrição minuciosa sobre todos os aspetos do Enclave.
O
Relatório concluído em São Tomé, e enviado em 18 de outubro para Lisboa, é
constituído por 98 folhas e 86 fotografias que testemunham a sua passagem por
Cabinda.
O
enviado acreditava que a região estava dotada para um grande número de
explorações. Só carecia de recursos humanos, orientações e perseverança, pois
estava convencido que Cabinda podia ser um centro comercial muito importante,
uma vez ligado ao comércio de Chiloango e às explorações agrícolas do Mayombe.
Não lhe restando, no entanto, qualquer dúvida de que tanto o cacau, como o café
se dariam ali, esplendidamente, garantindo de futuro, resultados certos.
As
dificuldades da Companhia deviam-se exclusivamente à ignorância quase absoluta
do que era o Mayombe e a sua riqueza.
No
relatório, podemos encontrar descrições preciosas sobre o que por si foi
presenciado, completado com sugestões de ideias e politicas que poderiam ser
adotadas, para melhorar a produção dos terrenos da Companhia e também da
região.
As
86 fotografias enriquecem grandemente o relatório, dado Telmo Correia ter tido
a preocupação de fotografar o mais importante do que testemunhou.
É,
sem dúvida, um documento fundamental para se saber como se encontrava o antigo
enclave português no primeiro quartel do sec. XX.
A
região de Cabinda, mais concretamente o Maiombe, tem algumas características
que a tornam uma região especial. Entre elas, está em destaque a presença da
segunda maior floresta do mundo, depois da Amazónia no Brasil, a floresta do
Mayombe.
Outra
característica emblemática da região é o povo Bakama, grupo que acredita na
interação entre o seu grupo vivente e os espíritos ocultos dos deuses e dos
antepassados, assegurando assim a reconciliação entre vivos e mortos.
Era
na altura, segundo a visão de Telmo Bandeira:”… uma região fértil, povoada
de magnificas florestas, e vigorosa vegetação, pouco acidentada até ao Bucco
Zau, o máximo de altitude de 100 metros, por ele correm alem de muitos ribeiros
secundários os Rios Chiloango-Loango-Luci-Lubambe e Lucucuto”.
É
portanto neste enquadramento que este valioso relatório nos poderá elucidar de
forma detalhada como se processava a exploração destes territórios, perceber
também as características intrínsecas da floresta e entender a atividade
exercida pelos vizinhos estrangeiros dos portugueses, no Congo belga e no Congo
francês.
Existem
várias informações no relatório a ter em conta: detalhes variados sobre a
Companhia de Cabinda (habitações, senzalas, enfermaria, tráfego marítimo,
plantações de cacau e café, área plantada e área total), distâncias e formas de
circulação na região (tipoia, canoas, barco a vapor), e ainda, informações
sobre o Congo belga e francês.
Também
existem informações sobre a inoperância da máquina administrativa portuguesa no
território, a circulação nos portos, sugestões onde os embarques deveriam ser
feitos e apontamentos sobre a povoação de Chiloango.
Surgem
igualmente dados sobre a flora e a existência de grande riqueza de produtos
alimentares, informações detalhadas sobre o cacau (sempre realçando que o seu
cultivo e comercialização era mais vantajoso que o de São Tomé). Isso é deveras
comprovado em excertos do relatório: “ É sem duvida esta cultura a que maior
atenção tem merecido à Companhia, e com justa razão visto que o terreno é
magnífico para a sua cultura”.
Destaca-se
também a opulência das madeiras, que constituía um dos principais negócios da
Companhia, e neste, em particular, é importante o relato: “As principais que
se conhecem, pois é possível, que de futuro apareçam na floresta mais, entre
outras são as seguintes:
Para construção: M´gulo-maze, M`bôza, Cambala, Tola-chifuta, Menga, Senha, Senhungo,
Mangkte, Tola, Undienuno, Muabi, M`Poça, Safu-Cola, Cassa-Cassa, Casca, Mogno,
Tacula. Para marcenaria: N´Vigna, N’Limba, Magne Branco, Senhungo, Mudienono,
Magkte, Muabi, Mogno, Tacula. Com sementes oleaginosas: Muabi, Bula-Lausa e
palmeiras de várias castas. Para tinturaria: Tacula”.
Estes
nomes são referidos no relatório em indígena-Fioti, pois ignoravam-se os nomes
botânicos da maior parte das espécies.
Também
existem alusões à cultura de café e ao azeite de palma, que, juntamente com o
cacau, constituíam uma das maiores riquezas da Companhia, aliadas à sua
imediata exploração.
Outro
aspeto interessante do relatório, são as sugestões dadas para elevar as
produções das fazendas no aumento da exportação dos produtos comercializados na
zona: “A produção das fazendas, pode ser elevada, na proporção da limpeza
dos palmares, e do seu aproveitamento por meio de linhas férreas, ou caminhos
em que possam transitar camiões, que servindo as plantações de cacau e café,
servirão igualmente os palmares”.
Outra
sugestão curiosa é a seguinte: “Com o pessoal hoje empregado no fabrico de
azeite, se houvesse caminho de ferro nos palmares, o fabrico seria pelo menos
10 vezes mais, mas no estado rudimentar em que tudo está, em que o cortador,
tem de trazer de grandes distâncias com a pinha de andim à cabeça, não é
possível fazer mais”.
Outros
temas merecem também ser referidos: informações sobre os cacaueiros, borracha,
algodão, tabaco e vários tipos de coqueiros.
Há
ainda referência a outras culturas, nomeadamente as existentes nas feitorias da
Companhia, mas que necessitariam de maior incentivo, dando, neste caso,
sugestões para o seu desenvolvimento. Entre estas culturas destaca-se o açúcar
e o arroz.
Da
leitura, deduz-se que a Companhia podia deter muitas outras culturas, quer para
exportação, quer para consumo próprio e local, tais como, o milho-mandioca e os
seus derivados, batata-doce, pimenta, nós moscada, canela-baunilha e cultura da
cana.
“Os
terrenos da Companhia e das margens do Chiloango é tudo quanto há de melhor
para a cultura da cana, pois são terrenos ricos cheios de húmus, regados,
sempre que carecem e alargados no tempo das chuvas por pouco tempo”.
Destaca-se
neste particular este excerto do relatório:
“O terreno é magnífico, tudo se dá com generoso pagamento da semente”.
Entre
os vários produtos existentes no território há também a destacar a grande
variedade de bananas, papaias, safú, manga, abacate, nona, fruta-pão, malolo,
cajueiro, goiabeira, maracujá, tamarindo, jaca, laranjeira, tangerineira,
figueira e o limoeiro.
Consta
ainda do relatório, a existência de numerosos papiros na região, considerações
sobre botânica e a enorme variedade de plantas.
Também
o regime vigente no derrube e abate de árvores é aflorado, a fauna e a grande
existência de água.
Na
floresta do Mayombe destaca-se uma grande variedade de espécies animais,
nomeadamente o elefante e o leopardo. Mais em abundância o Chimpanzé, macacos
de variadas raças, o porco-espinho, javali-antilope, pacassa, veado e um sem
número de mamíferos. Existem também águias, abutres, papagaios, pavões e rolas.
Nos rios é focado o Jacaré, e muitos outros répteis de pequena importância.
Numa
leitura ainda mais profunda, o relatório testemunha preciosas informações sobre
temas tão diversificados como a forma como se descarregava a mercadoria e esta
era embarcada para a Europa, os procedimentos da Empresa Nacional, na forma
como se fazia o comércio na África Portuguesa (detendo aqui o monopólio) e o
problema da falta de limpeza dos rios, como entrave á circulação na floresta.
A
falta de caminhos no Mayombe constituía um problema, assim como, o estado em
que se encontravam outros terrenos que não estavam na mão da Companhia.
Salienta-se a falta de mão de obra, a ausência de posto meteorológico e a
proliferação de insalubridade na região.
A
assistência médica também era inexistente, enquanto serviço prestado pelo
Estado focada a inexistência de assistência médica fornecida por parte do
Estado. Este, era apenas realizado pelos feitores e enfermeiros, nas feitorias.
Telmo Bandeira, aflora ainda questões relacionadas com o número de população e
as condições da estrada de Cabinda a Landena. Sugere, no mesmo relatório, a
construção de um caminho de ferro que ligasse Cabinda à fronteira francesa,
sendo este, a melhor solução para o desenvolvimento geral da mesma.
Muito
curioso e emblemático sobre a falta de comunicação na região, é o relato da
ineficácia da linha telefónica: “…se percorre km e km, em que se encontra o
fio pelo chão quebrado; é desolador este abandono. Montada foi ela, mas em
seguida abandonada, e é isto, o que mais certo tem esta nova montagem”;
Seria
demasiado exaustivo enumerar todas as informações disponibilizadas no relatório
sobre a realidade encontrada em Cabinda.
A
verdade é que o emissário do BNU tentou fazer um relatório o mais pormenorizado
possível. Neste contexto é provável encontrar nesta exposição “quase” todo o
espelho da realidade Cabindense na primeira década do século XX, dado Telmo
Bandeira ter alargado a sua análise para além dos terrenos que pertenciam á
Companhia de Cabinda.
O
relatório tem como testemunho global a contestação da magnificência dos
terrenos que a Companhia detinha e a mais profunda convicção que uma futura
aposta económica do Banco Ultramarino neste local, seria uma excelente decisão.
Essa realidade é comprovada pelas suas ideias espelhadas no relatório: “A
riqueza dos terrenos que a Companhia já possui é de resultado tão certo, que um
grande serviço prestarão ao país, fazendo com que o Banco, decididamente
auxilie a reforma da Companhia de Cabinda…que tenha capitais para desenvolver
as suas plantações e mais trabalhos, arrancando á terra a riqueza que ela
encerra”.
Outro
excerto exemplificativo da sua confiança: “A minha fé no futuro do Mayombe,
e portanto no da Companhia de Cabinda é absoluta, e lamento que a falta de
fortuna, me não permita concorrer para o seu desenvolvimento, e nem ter uma
situação no mundo da finança, que me permitisse directamente trabalhar na
organização de uma finança, que me permitisse directamente trabalhar na
organização de uma Companhia; mas será para mim, motivo de muita satisfação e
orgulho, se este meu relatório fizer despertar o interesse pelo futuro do
Mayombe”.
Do
relatório podemos depreender a enorme riqueza do solo, das excelentes condições
climatéricas, geográficas e sociais que tornavam fácil e natural o
desenvolvimento da Companhia de Cabinda. Nele é evidente a“imagem” de uma terra
afortunada e fantástica, em que qualquer tentativa de negócio, se fosse
devidamente arquitetada e posteriormente realizada, teria provavelmente um
destino prometedor.
Mas
tal como aconteceu anteriormente e possivelmente algumas vezes acontecerá no
futuro, não são as melhores ideias, nem os melhores intérpretes que “comandam”
os negócios e as empresas. Muitas vezes são colocados os interesses pessoais e
os de algumas organizações, à frente do desenvolvimento das sociedades, dos
países e do próprio Estado.
A
ideia fulcral que o relatório transmite é a visão de uma terra esplêndida, com
grandes potencialidades mesmo para a época, mas armadilhada de muita
burocracia, ausência quase total de apoio estatal e grandes dificuldades na
articulação da produção e comercialização dos produtos. Ressalva igualmente a
ideia da falta de um plano geral gizado quer pelo Estado, quer por privados,
para o aproveitamento económico e comercial do Enclave de Cabinda.
Infelizmente,
a Companhia apesar de até 1925 ter apresentado alguns lucros, começaria, a
partir desta data, a acumular dívidas, sendo o montante da mesma, em 1929, de
3.980.000$00 contos.
Várias
mudanças administrativas e ações intentadas por alguns acionistas levaram, no
mesmo ano, a direção da Companhia a tentar arrendar as suas propriedades em
África à Sociedade belga Bunge….!!!!
Existe
a confirmação de que foi lido, dado estar rasurado e emendado a lápis, não
existindo contudo outras fontes de informação adicionais no relatório.
No
processo individual de Telmo Bandeira, não existe nenhuma menção da sua
passagem por Cabinda. A informação mais relevante é a de que foi colocado na
situação de supranumerário pela ordem de serviço nº 283 em 1 de março de 1932.
O
relatório está atualmente disponível à consulta no Arquivo Historio do BNU.
Rui
Miguel - Arquivo Histórico CGD
Março
2012
Só passaram 100 anos desde este relatório e Cabinda continua magnífica em todo o seu potencial e esplendor à espera.
ResponderEliminarAconsfrinAmoe-de Sherard Linson https://wakelet.com/wake/3-1bGvYcx3YaLTUY_WBxT
ResponderEliminarlandlogavi
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