sábado, 11 de dezembro de 2010

TAPEÇARIA do BNU em ZURIQUE

Tapeçaria que pertenceu ao Património Histórico do BNU, numa excelente exposição no Museu Rietberg - Zurique
O Museu Rietberg, em Zurique - Museu de Artes da América, África, Ásia e Oceânia – organizou a Exposição Marfins do Ceilão – objectos de luxo do Renascimento, a qual está patente ao público, entre 28 de Novembro de 2010 e 13 de Março de 2011.
Se alguns colegas tiverem oportunidade de visitar Zurique neste período, não deixem de ir ver esta excelente Exposição, onde irão encontrar a magnífica tapeçaria Chegada de Vasco da Gama a Calicut (séc.XVI), a qual, além de constituir o highlight do Núcleo de Abertura, irá fazer parte de um Programa Educativo a decorrer durante todo o período da exposição.

Esta tapeçaria que pertenceu ao Património Histórico do Banco Nacional Ultramarino e que hoje integra o Acervo Museológico da CGD, é considerada uma peça rara, muito curiosa e de elevado valor patrimonial.
Faz parte de uma série denominada à Maneira de Portugal e da Índia, encomendada pelo rei D. Manuel I aos teares flamengos, para comemorar o período de Expansão Marítima que se viveu no seu reinado.
Com as dimensões de 7,70m x 4,00m, foi tecida nas oficinas de Tournai – Flandres (um dos mais importantes centros europeus de fabrico de tapeçarias no século XVI), em lã e seda, em tons de vermelho, azul, verde, amarelo e castanho e apresenta características estilísticas e de composição ainda góticas.
Profusamente ornamentada, a sua figuração tem sido motivo de vários estudos e interpretações, dadas as alegorias e simbolismos que apresenta. Julga-se que retrata a chegada das naus de Vasco da Gama à Índia, com pendões esvoaçando nos mastros, numerosos marinheiros a bordo ou em pequenos barcos - um dos quais cheio de avestruzes -

transmitindo uma imagem curiosa e espectacular da cena do desembarque.
Apresenta ainda curiosos elementos do mundo animal: o unicórnio - animal mitológico - a ser transferido para o barco onde já se encontram três camelos, um leopardo enjaulado, animais sobre rochas e uma pequena gaiola com várias aves.


Na extremidade direita, podemos ver algumas pessoas a sair de um castelo para dar as boas vindas à frota. Um mensageiro entrega uma carta ao Rei de Calicut, o que está de acordo com a investigação histórica geral. Por cima do arco de entrada do castelo, que parece pertencer ao Rei, estão inscritas as palavras “INDIAE NOVAE” (NOVA ÍNDIA).

O facto de se encontrarem em cada um dos lados da tapeçaria elementos urbanos e figurativos de expressão europeia e oriental torna possível uma interpretação de particular importância simbólica: O Encontro dos Mundos - o Mundo Oriental e o Mundo Ocidental - com as caravelas portuguesas ao centro.

Foi adquirida pelo Banco Nacional Ultramarino, em 1961, (altura em que se preparava a comemoração do centenário do Banco que iria ocorrer em 1964) na firma de antiquários French & Company Inc., de Nova Iorque, anteriormente pertença do Marquês de Dreux-Brézé – Castelo de Brézé, em Anjou.
Segundo o perito de têxteis em tapeçarias M. Louis de Farcy, esta tapeçaria fazia parte de um conjunto originalmente adquirido por Filipe o Formoso, Duque de Borgonha e Rei de Castela e teria sido oferecida a um nobre, provavelmente Jacques de Breze, Senescal da Normandia.

Tem figurado em grandes exposições internacionais e a sua presença nesta Exposição em Zurique enquadra-se no ambiente retratado – a época das Descobertas.
Foi em 1506 que os Portugueses chegaram à lendária ilha de Ceilão (a mítica Taprobana de Camões), actual Sri Lanka. A partir de então, graças às relações comerciais que estabeleceram com os reis cingaleses, mercadorias raras como especiarias, madeiras, marfins, pedras preciosas e até mesmo elefantes, foram trazidas para a Europa.
O foco da exposição centra-se num conjunto de belíssimos objectos de marfim do século XVI, feitos no Sri Lanka, que pertenceram à colecção de Catarina de Áustria (1507-1578), rainha de Portugal, e que se encontram actualmente em diversos museus e colecções particulares.

É a primeira vez que uma exposição deste género é apresentada na Suíça, visando dar a conhecer a um vasto público – suíço, alemão e austríaco - alguns aspectos da História de Portugal durante a época dos Descobrimentos, pondo em evidência o lado exótico das novas terras descobertas - figuras, fauna e flora - que tanto fascinaram Portugal e a Europa da época e que ainda hoje nos surpreendem pela sua beleza e iconografia misteriosa.

Organizada pelo Museu Rietberg, com o apoio da embaixada e do consulado de Portugal na Suíça e do Instituto Camões, esta Exposição é também uma forma de promoção de Portugal na Suíça durante um período de três meses e meio, durante o qual decorrerão vários eventos – concertos de música renascentista, sessões de fado, leituras e semanas de gastronomia portuguesa – que serão amplamente divulgados pelos media suíços.

Lídia Barros

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